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sexta-feira, 16 de junho de 2023

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A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E DA AÇÃO PEDAGÓGICA

Toda ação pedagógica no processo de ensino e aprendizagem é orientado por princípios educativos. O princípio da pesquisa é um desses princípios pelos quais não podemos abrir mão quando a proposta é construir educação através do diálogo vivo entre estudante, professor e conhecimento.

O princípio da pesquisa aparece antes da escola na vida dos estudantes. Ele está presente desde o primeiro momento em que nos interessamos em investigar a nós, nossas relações e ao mundo a nossa volta. Já em tenra idade, somos investigadores, pesquisadores. Essa competência, é despertada inicialmente, pela curiosidade em querer conhecer o nosso próprio corpo. Depois, o mundo ao redor do nosso corpo, mas em pequeno alcance, o mundo das sensações, das cores, dos sons, dos movimentos. Mais tarde, o olhar para o mais distante, com dúvidas mais complexas e de relações mais intensas. Somos assim, curiosos!


Decorrente da tradição escolar, de suas metodologias e princípios, de sua história, há escolas que assassinam a dúvida, limitando o saber ao fazer escolar tão somente. Mas há também aquelas escolas que amplificam a dúvida, ensinam que duvidar é o princípio da aprendizagem e, ao assim ensinar, ensinam a mobilizar a dúvida por meio da pesquisa.

Nos monólogos tradicionais do processo de transmissão de saberes, a dúvida é velada, escondida, reprimida e oprimida. É a condição da transmissão! Transmissão gera obediência, subserviência, opressão. Transmissão não gera autonomia, porque não gera dúvidas. Quando há dúvidas, é necessário a autonomia (auto - por si + nomos- leis).


A dúvida, a pergunta, o questionamento não são inatos no ser humano! São experiências decisivas que vão construindo uma atmosfera preenchida de dúvidas, conceitos, saberes e curiosidades. A escola precisa descobrir que o princípio da pesquisa está em construir saberes a partir da mobilização das competências do projeto de vida dos estudantes. Um projeto de vida repleto de dúvidas, alarga ainda mais a possibilidade de construir conhecimento, pois o aditivo fundamental para o movimento de aprender, está na pergunta, no questionamento, na dúvida. É nas incertezas do Projeto de vida do estudante que o mesmo vai buscando caminhos e descaminhos em direção aos diferentes conflitos que possibilitam aprendizagens.


É importante perceber que esse movimento não começa no Ensino Médio, mas está presente desde cedo na vida do estudante, como por exemplo, nas brincadeiras infantis, onde precisam mas não querem dividir os brinquedos ou criar relações democráticas de espaços.


Assim, é preciso possibilitar a criação de Projetos de Pesquisa voltados para os conteúdos escolares, onde orientados pelo professor, os alunos possam explorar suas dúvidas, objetivos, hipóteses, sua pertinência acadêmica em aprender e impactos sociais do conteúdo, autores e estudos já realizados (como a realização do Estado da Arte), fundamentando e reconhecendo linhas teóricas, construindo caminhos metodológicos para coletar os dados e analisá-los. Ainda, não menos importante, após a análise, construir espaços de socialização desses conhecimentos. Na socialização, permitir o debate e a construção de novas ideias que podem orientar novas pesquisas.

 

Em muitas escolas, a prática da pesquisa faz parte do cotidiano escolar. No entanto, mais que cotidiano, é necessário que seja compreendida como princípio educativo. Os documentos, sejam eles, o Projeto Político Pedagógico ou mesmo, os planos de trabalho precisam contemplar urgentemente essas experiências educativas.


O silenciamento, a falta de perguntas/dúvidas/questionamentos, são sintomas de que a passividade diante do novo pode agravar ainda mais o declínio cultural tão presente em nossa sociedade.

 

“Pesquisa como princípio científico e educativo faz parte de todo processo emancipatório, no qual se constrói o sujeito histórico autossuficiente, crítico e autocrítico, participante e capaz de reagir contra a situação de objeto e de não cultivar o outro como objeto. Pesquisa como diálogo é processo cotidiano integrante do ritmo de vida, produto e motivo de interesses sociais em confronto, base da aprendizagem que não se restrinja a mera reprodução; Na acepção mais simples, pode significar conhecer, saber, informar-se para sobreviver, para enfrentar a vida de modo consciente”. (DEMO, 2006. P.42- 43)

 

(DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12. Ed. São Paulo: Cortez, 2006)

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sexta-feira, 24 de março de 2023

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UMA PENSATA: QUEM SÃO ELAS? (SE VOCÊ CONSEGUIR ADIVINHAR)

Elas estão por toda parte. Fazem parte da nossa vida. Algumas  muito conhecidas, outras nem tanto. As mais conhecidas, estão na boca do povo. Fazem parte do seu dia a dia, do seu cotidiano. Algumas são utilizadas em tons mais agressivos, outras em tons mais sensíveis. Algumas aprovam, outras reprovam. Quando bem ditas, se tornam benditas! Mas aquelas mal ditas, consequentemente, tornam-se malditas. Algumas tem apenas um sentido, outras, sentidos diversos. Algumas quando ditas, logo são interpretadas; outras, levam um tempo para serem compreendidas.

Elas estão entre o entendimento e a compreensão. Estão aí, aqui e acolá.  Se silencio, provocam o meu silêncio! Se pronuncio,  sugerem-me o silêncio para provocar-me. Não as posso renunciar, porque quando as anuncio, denuncio.  Me comprometem, porque ao denunciar, tenho que me responsabilizar sobre o que elas podem significar.

Estão na grafia, na arte, na filosofia.  Algumas querem gritar, outras preferem silenciar. E mesmo no silêncio, depois de escrita, tanto a bendita quanto a maldita, excitam o pronunciar.  Estão no doutor, ou mesmo no analfabeto. Estão na cultura, nos detalhes, na desenvoltura. Estão por toda parte, e quando você pensa em não as encontrar, já pensou, e com elas foi morar.

Entre elas, há o mundo, para quem as possa decifrar. Quem não compreender, mesmo que sábio parecer, ignorante pode ficar.  Não são neutras, nem tão pouco radicais, quando se unem para traduzir o silêncio em sons, ideológicas vão se tornar.

Nelas há um poder, o poder de transformar! Estão nas pontas dos dedos, ou na boca a falar.  Mas se o medo as impedir de pronunciar, e mesmo assim silenciar, se não aparecerem nos livros e nos cadernos, na eternidade hão de ficar.  Delas não somos donos, nem tão pouco opressores, mas se delas nos apropriarmos, libertadores vamos ficar. 

Sempre as tenho do meu lado, e do teu lado hão de ficar. Mesmo que busque o seu significado, do anonimato sairão, e jamais te deixarão, enquanto buscares te eternizar.

Você sabe de quem estamos falando?

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sábado, 11 de março de 2023

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UM SHOW...VÁRIOS APELOS...E A CAMINHADA EDUCATIVA DOS PROFESSORES

 

Recentemente somos comunicados de que há uma artista, que através de seus discursos vem minimizando a identidade e o papel social do professor.  É um discurso irrelevante do ponto de vista da construção histórica da Educação e da importância desse profissional em nossa sociedade.  No entanto, como vivemos em uma sociedade em que os radicalismos e os extremos parecem ganhar mais importância que a reflexão, propõe o pensar o professor em sua dimensão de maior complexidade: sua identidade, papel e compromisso social.

Professor lê, discute, elabora sínteses, conceitos e ideias. Realiza esse  movimento porque seu trabalho exige decência. E a decência está na coerência entre aquilo que sabe, ensina e vive.  A identidade pessoal e profissional do professor vai sendo forjada, construída e elaborada, em uma seara de conflitos pessoais, identitários e culturais. A construção de um professor, bem como sua elaboração teórica, na docência com decência, não ocorre de um momento para outro, não explode na mídia, através de um vídeo do YouTube, ou mesmo durante um show de 30 minutos. A decência na docência, com coerência, leva quem sabe, uma vida toda!

De fato, professor não ganha 70 mil reais para ministrar uma aula.  Mas o valor do saber é para uma vida toda, e não para uma noite, ou quem sabe no máximo um ano.  O valor do saber não está na explosão de um momento,  na euforia do apelo sexual ou imoral, mas na insistência do poder do argumento.  O apelo,  a euforia, leva toda uma sociedade há um impulso extremo contra valores, que esteriliza as boas relações, a sadias convivências e a continuidade da construção da humanidade.   Em síntese, o saber humaniza!  Por isso, o professor é humano e humanizador!  Suas relações com o saber e com os seres humanos não é um ingresso pago,  mas um compromisso que vale muito mais do que 70 mil reais.

O professor não precisa tirar a roupa ou mesmo incitar  sexo explícito para chamar a atenção!  Basta um bom dia, uma acolhida, uma palavra. Professor tem o dom e dizer bem, e ao dizer bem, a palavra se torna  bendita.  Professor, de fato, tira muitas coisas:  O invólucro da ignorância,  a roupagem da imoralidade e da corrupção política formada pelo senso comum na consciência de cada um,  a camisa de força do preconceito, do racismo, da xenofobia, da homofobia,  da intolerância religiosa, entre outros.  Assim, o professor não encarna a imoralidade, a indecência,  a falta de pudor, entre outros, para fazer seu show! 

Professor não é momento!  Professor é eternidade!  São muitos que passam pelo professor todos os dias! São muitos professores que passam por seus alunos... Não! Eles não passam! Nessa relação de professor e aluno, não há quem passe, cada um fica um pouco no outro! Cada um ensina, e ao ensinar, também aprende! Aluno e professor, professor e aluno, estabelece uma relação de eternidade. Por isso, o professor não é momento, professor é eternidade!

Por fim, podemos influenciar as pessoas, os nossos jovens e as nossas crianças, com coisas boas e ruins. A escolha, é nossa! Somos os adultos da história! Precisamos direcionar bem os nossos jovens, para que eles possam direcionar bem os seus filhos, valorizar a vida antes de mais nada.  Valorizar a vida em sua complexidade, compreendendo antes de tudo, que a cultura é uma questão prioritária quando você quer formar seres humanos íntegros, maduros e com capacidade de dar continuidade a tudo aquilo que os bons professores  e familiares  construíram.  Enfim, um show de irrelevantes apelos, não pode ser mais importante, do que uma caminhada educativa realizada por muitos professores!

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sábado, 4 de março de 2023

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O ADOLESCENTE PÓS-MODERNO: SEUS CÓDIGOS, NOSSOS DESAFIOS!

Na pauta das famílias, do encontro entre pais, professores, formadores de opinião, comunidades religiosas, gestores de instituições educacionais, está sempre a busca da compreensão das diferentes gerações e fases das nossas crianças, adolescentes e jovens. Me ocorreu, nesse sentido, buscar uma analogia para tentar compreender, refletir e discutir algum tipo de contribuição sobre os adolescentes do nosso tempo:  adolescentes pós-modernos. Mas antes, fui recolhendo ao longo de algumas leituras e diálogos, algumas máximas que caracterizam os nossos adolescentes:


1) O adolescente pós-moderno não acredita em grandes mitos que animaram a nossa adolescência (me refiro à adolescência do atuais adultos).
2) O adolescente pós-moderno não crê em milagres econômicos, principalmente aqueles que vem de autoridades políticas.
3) O adolescente pós-moderno não se agrega a grandes ideologias, grandes ídolos ideológicos que sustentavam movimentos juvenis no século passado.
4) O adolescente pós-moderno não crê na onipotência da razão, em sistemas ou explicações puramente racionais como forma de resolução de seus problemas do cotidiano.
5) O adolescente pós-moderno, mesmo inserido no mundo da tecnologia e da ciência, não a compreende como aquela que tudo pode criar ou construir.
6) O adolescente pós-moderno, recusa o passado e duvida do futuro; e por isso, quem sabe, busca o descompromisso com o presente.
7) O adolescente pós-moderno opta pelas vivências e experiências do momento.
8) O adolescente pós-moderno, não crê em utopias, cria distopias.
9) O adolescente pós-moderno não transcende o hedonismo, por isso facilmente é vítima do consumismo e busca uma cultura da satisfação.
10)O adolescente pós-moderno abomina a rotina, detesta  a repetição do cotidiano seja ela na escola, na casa, ou em suas obrigações.
11) O adolescente pós-moderno, boa parte dessa geração, encontra-se em um estado de melancolia; para reafirmar esse estado, cria tribos onde encarna o astral de uma linguagem que possa representar diferentes perfis melancólicos.
12) O adolescente pós-moderno valoriza a estética, o ritmo, a música, luzes e cores, valoriza a beleza e o movimento.
13) O adolescente pós-moderno, vive em um mundo extremamente subjetivo. Tem uma visão de mundo niilista. Afirma sua própria verdade. Afirma pedaços de verdade, como se esses pudessem explicar a complexidade do todo. Para chegar a esta verdade, utiliza de sentimentos e experiências individuais.


Possivelmente, ao ler até aqui, você concordou com algumas afirmações, discordou de outras. Por isso, essas afirmações não podem ser compreendidas como juízos sobre o adolescente pós-moderno, mas desafios que se impõe a sociedade de uma forma geral. 
Veja que em meio a essas características, há presença de valores e contravalores, caminhos e descaminhos, possibilidades e impossibilidades.


Nesse sentido, precisamos descobrir os códigos dessa adolescência pós-moderna. Precisamos compreender, como dito anteriormente, utilizando quem sabe analogia da águia. Quando a águia constrói seu ninho, normalmente em situações ou locais arriscados e, ensinar a pequena águia a voar, ela o faz com maestria; ou seja, coloca a águia adolescente no risco de cair, mas ao mesmo tempo, na possibilidade de aprender a voar.  Enquanto lança, ampara. Somente lançar, caracteriza abandono; somente amparar, caracteriza superproteção.

Por mais que o adolescente muitas vezes rejeite algumas sadias expressões dos adultos, ele deseja e necessita das mesmas.  Quando abandonado, se sente rejeitado. Quando amparado, se sente superprotegido. Não deseja o abandono, nem a superproteção! Desejo apenas que os pais, professores e toda a sociedade, tenham a consciência de que os adolescentes precisam de segurança e confiança para poderem alçar seus voos.

Por fim,  o adolescente pós-moderno não poderá ser concebido como projeção de realização daquilo que a geração anterior não conseguiu realizar em seu tempo.  Assim, o melhor a se fazer, é  ajudá-los a assumir as rédeas da própria história, interpretando e dialogando sobre seus códigos, conflitos e possibilidades.

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domingo, 26 de fevereiro de 2023

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QUANTO CUSTA A EDUCAÇÃO DOS SEUS FILHOS?

 

Se você tem um cruzeiro para realizar com a pessoa amada,  está esperando por este momento durante muito tempo, espera que ele seja um dos melhores momentos da sua vida,  escolheria qualquer condição  de infraestrutura do navio ou mesmo qualquer timoneiro para lhe conduzir nessa viagem dos sonhos?  Se você durante sua vida,  buscou economizar  dinheiro para construir a casa dos seus sonhos, você investiria agora, no momento da construção, em qualquer tipo de material ou mesmo contrataria alguém que se diz engenheiro sem  formação específica para tal?  Se durante sua vida, ocorresse a necessidade de realizar uma cirurgia que pudesse comprometer definitivamente a sua existência,  aceitaria colocar a sua vida sobre o prisma do possível nas mãos de qualquer profissional?  Se você respondeu "Não!" para todas essas perguntas, lhe convido a continuar a leitura dessa reflexão.

As aulas já iniciaram em todas as redes.  Primeiro, foram as escolas privadas, depois as municipais, e por último, as estaduais.  Todas elas abriram suas portas para acolher crianças de todas as idades, classes sociais, e diferentes perspectivas de vida. Cada uma foi oferecendo aquilo que pode e o que tem de melhor.  No entanto, acompanhando as notícias dos últimos dias, observamos que nossas crianças, em diversas situações, não estão no melhor que possa elas ser oferecido. Elas estão no possível!

O possível não é o suficiente para educar bem uma criança!  É possível oferecido, vai desde as condições de transporte, acolhida, e ensino, merenda escolar, segurança, comunicação, entre outros... que nesse momento, infelizmente, em algum lugar do nosso Estado (RS) encontra-se sucateados. Fazer o possível por nossas crianças, não é fazer o melhor que elas merecem! É descaso de uma geração para com outra!

A título de notícia, já existem lugares em nossos municípios que os pais se encarregaram de levar as crianças à escola, pois o transporte escolar mal começou a trabalhar e já parou de funcionar.  Há escolas, que só puderam abrir suas portas, porque durante as férias pais utilizaram sua mão de obra e seu tempo livre, bem como seu escasso recurso econômico, para dar o mínimo de condições  de uso aos espaços físicos da escola.  Não se trata, porém, de esperar assistencialismo na educação por parte do Estado, mas de fazer valer o direito à ela.

Tratar assim a educação das nossas crianças, fazendo o possível e não o melhor, é criar uma geração em que a educação não é prioridade. Se não se oferece hoje como prioridade,  nossas crianças, adolescentes e jovens, não a entenderão como prioridade. Porém, não se trata de um reclame, mas de uma aposta que não deriva da sorte, mas dos investimentos necessários nesse bem precioso, que se chama direito à educação.

Nossas crianças merecem o nosso melhor, e o nosso melhor, não é o descaso, o abandono, ou qualquer índice mínimo de qualidade em educação. Se a educação for levada a sério, como direito, é certo de que os índices  de violência, entre outros mal feitos da sociedade, que nos assustam a cada dia, tenderão futuramente a diminuir.

É importante, nesse ínterim, o papel da família. Lembrando de que a educação é papel do Estado, da família e de toda a sociedade.  Incentivar os filhos a frequentar a escola, fazer os temas, respeitar os professores e os colegas, cuidar do patrimônio (seja ele público ou privado), é no mínimo obrigação da família.  Zelar pela cultura, incentivando a leitura, a discussão, o diálogo, dentro de casa e na escola, é no mínimo ampliar as possibilidades da cidadania de nossas crianças. Por isso, Estado, família e sociedade, precisam ser parceiros na realização do melhor em educação para as nossas crianças, adolescentes e jovens.

Caso contrário, o seu tão sonhado cruzeiro com a pessoa amada,  a construção da sua casa dos sonhos, a qual tanto economizou, ou ainda, a sua vida estará sempre em risco.  Sem analogias, mas com realidade,  esta é a resposta para a pergunta que está no título:  Quanto custa a educação dos seus filhos?

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domingo, 19 de fevereiro de 2023

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CF - 2023: A FOME QUE É NOSSA, DE TODOS NÓS!

Você pode estar curtindo o carnaval,  festa, alegria!  Quem sabe até saboreando um banquete regado de muita abundância alimentar e bebida.  No entanto,  nesse momento existe um número alarmante em relação a fome no Brasil.  A festa do carnaval pode até mascarar os  125,2 milhões de brasileiros que convivem com alguma insegurança alimentar.  Dentre esses, encontramos mais de 33 milhões de pessoas que enfrentam a fome em nosso país.  São exatamente 15,5% da população brasileira de 2022!

Quero trazer essa reflexão, pois quarta-feira iniciamos em todo o Brasil, a Campanha da Fraternidade 2023, que traz como tema "A FOME!".

Para se ter ideia da dimensão desse quantitativo de pessoas é uma população equivalente as maiores cidades do Brasil,  como o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte e Manaus. Em termos de população de país, é como se fosse toda a população peruana passando fome.  É muita gente! É gente, porque a condição da Fome é uma condição de humanidade,  é um direito humano. O direito humano da Alimentação saudável é adequado e indispensável para sobrevivência de todas as pessoas.  Alimentação é um direito, e como tal, deve ser garantida pelo Estado a todos os seus cidadãos.

Os pobres são as primeiras vítimas. Entre eles, as crianças e os idosos, as mulheres grávidas e os enfermos. Também encontramos as pessoas refugiadas com deficiência nutritiva.

Porém, as causas da fome no Brasil, podem ser resumir algumas situações:

a) Estrutura fundiária:  esse tópico se refere a como a terra foi distribuída historicamente e como ela continua sendo distribuída.  Quando se fala em terra, é bom lembrar que é nela que ocorre a produção familiar do alimento. Países que tiveram uma melhor distribuição de terra, com uma ocupação preocupada com a produção de alimentos, não realizou de forma irregular o estabelecimento das famílias, com isso, diminuiu e muito as desigualdades socioeconômicas.

b)  Política agrícola que coloca o sistema produtivo a serviço do sistema econômico-financeiro:  as políticas agrícolas em sua maioria, incentivam o agronegócio exportador,  acreditando que o mercado internacional é mais importante do que a alimentação e a nutrição da população interna.  Por isso, descaso com agricultura familiar, pouco incentivo.  É importante investir na produção agrícola local, diversificando as propriedades e movimentando a economia local. Deve se produzir para comer; no entanto, No Brasil se produz para lucrar e exportar.

c) O desemprego e o subemprego:  entre as manobras de sobrevivência,  estão a crise econômica aliada a difícil conjuntura de trabalho que causam a fome no Brasil.  Muitas famílias desempregadas e outras tantas subempregadas, sem as necessidades seguranças institucionais.  O Brasil conta com 14 milhões de desempregados em 2022.  Desses, 24% não consegue trabalho e desistiu de procurar. 

d) A perversidade da política salarial:  o preço do alimento é caro. O salário é baixo.  No entanto,  o salário mínimo não garante mais minimamente as condições de existência do trabalhador e de sua família.  Existe no Brasil um grupo privilegiado de 28 mil pessoas que ganha mais de 320 salários  mínimos mensais.  Enquanto isso,  um trabalhador tenta forçosamente viver com o salário mínimo mensal.

e) Comportamentos morais lamentáveis:  a busca pelo dinheiro, a ganância em querer ter mais, a luta pelo poder da imagem pública,  o descaso pela comunidade, e outras formas de corrupção, aumentam os perigos da fome e da subnutrição.  A posição social da mulher, a carência da formação,  o analfabetismo,  gravidez na adolescência, entre outros,  aumentam a precariedade da vida social, potencializando a fome.

As regiões mais afetadas pela fome são a região nordeste e a região norte. Nelas, os domicílios rurais são aqueles que são afetados pela fome com maior intensidade. A região Sul tem o menor índice de fome.  Mesmo que exista essa diferença,  a fome não tem sido prioridade; a prioridade maior é sempre o lucro.

Para finalizar, uma reflexão: "Se eu tenho fome. o problema é meu. Se meu irmão tem fome, o problema é nosso!"  - Dom Hélder Câmara.

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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

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Tempos de Intersubjetividade Comunicativa!

 

Estamos vivendo a crise dos tempos sólidos.  É o momento de privilégio,  de sentir-se privilegiado, pois, ao mesmo tempo em que sentimos a crise dos tempos sustentados por valores sólidos,  estamos construindo novos tempos.  Não se trata de julgar o passado como forma o garantia de exaltar o presente e prospectar o futuro,  mas de refletir sobre aquilo que foi bom, dando continuidade, e descontinuando aquelas abordagens que a reflexão não permite sustentar.

Em tempos sólidos, a subjetividade, a razão, o indivíduo, estava em alta.  O sucesso era resultado de mérito! Mesmo que para isso fosse necessário criar uma sensação de superioridade perante os outros; romper relações com os próximos,  com a natureza e até mesmo com Deus.

Em tempos sólidos a visão de mundo estava pautada no domínio do Homem sobre a Natureza e, muitas vezes, sobre o próprio homem.  A ciência, a técnica e a Razão matemática contribuíram para esse cenário. Dicotomizou-se muito,  fragmentou-se culturas, pensamentos, memórias.  Excluiu-se as possibilidades da diversidade. O sólido não é flexível! Não se adapta, não muda!

Na educação, os tempos sólidos carregavam verdades inquestionáveis, autoridades mascaradas, autoritarismos vangloriados pela honra, pela história e até mesmo, em muitos casos, pela impossibilidade de questionar a reprodução do próprio tempo.  O velho se tornou mais importante que o antigo. Desgastou-se, subjetivou-se tanto que entrou em crise.

A ética do domínio necessitou ser substituída pela ética do diálogo. Nasceu a intersubjetividade comunicativa. O novo paradigma que está sendo construído. Neste novo paradigma,  o da Intersubjetividade comunicativa,  não há lugar para autoritarismos ou para subjetivismo autoritários. As relações de diálogo são construídas mediante consensos  de diferentes. A diferença e a multidiversidade fazem parte da nova ética.

Mesmo que estejamos em um processo de transição do paradigma da subjetividade para o da intersubjetividade comunicativa,  é preciso superar alguns desafios:  o primeiro,  quem sabe o mais importante,   a relação entre opressores e oprimidos,  entre pobres e ricos,  entre sábios e ignorantes.  Buscar o sentido, ao invés de buscar o poder.  Até porque o poder não está na força, mas na autoridade do argumento. É preciso convencer sem vencer!  

A postura dialogal, no paradigma da intersubjetividade comunicativa, passa necessariamente pelo diálogo crítico, pela oportunidade de falar e o direito de ouvir. Não há indivíduos, mas sujeitos porque agem, e agindo, se tornam novos sujeitos.

A ética está na maturidade da aproximação sem o preconceito ou a exclusão, pois é através da referência do outro que vou me constituindo nas minhas escolhas, no meu projeto de vida, e no meu discernimento diante das questões éticas que cercam a vida da sociedade. Por isso, são escolhidos projetos coletivos para compor o coletivo da sociedade.  A dimensão individual, tem sua importância quando contribui  democraticamente para a esfera coletiva.

Para concluir, as relações intersubjetivas são mediadas pela comunicação educativa, de respeito, de amor, de entendimento.  O diálogo crítico tem função reparadora, pois ao reparar também ama,  aprende e se eterniza. 

E aí, já pensou nas possibilidades da intersubjetividade comunicativa nos novos tempos?

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domingo, 12 de fevereiro de 2023

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Avaliação COMO Aprendizagem: uma nova perspectiva da avaliação escolar!

Desde pequenos avaliamos tudo que está a nossa volta.  A pretensão da  avaliação é gerar algum tipo de aprendizagem.  Nem sempre a avaliação que fazíamos nos conduziu aos melhores resultados de aprendizagem.  Nem por isso deixamos de avaliar.  Assim,  a finalidade dos processos avaliativos na condição humana, e do desenvolvimento humano,  é possibilitar novas aprendizagens.

Sabemos, portanto, que a escola ao longo do seu processo de construção,  dicotomizou (separou) a avaliação da aprendizagem. Tal confirmação se dá quando é comum ouvirmos cursos de formação avaliação e aprendizagem sendo apresentados como categorias separadas.  No entanto,  a reflexão que quer trazer aqui,  está cunhada em uma perspectiva recente de avaliação:  a avaliação como aprendizagem. 

Dentro da complexidade de avaliar para aprender,  o processo de aprendizagem deixa de ser mecânico, e passa a ser complexo.  Por isso não se pode pensar em uma avaliação como aprendizagem,  em uma escola em que a proposta de ensino está voltada  a partir do "dar aula".  Avaliação como aprendizagem está centrada no aluno, e não no professor.

Para isso,  podemos entender que existem três níveis de aprendizagem, das mais simples às mais complexas:

a) Nível da compreensão declarativa: neste nível de aprendizagem o aluno fala sobre algo.  É também nesse nível que instrumentos como testes e provas,  com perguntas e respostas óbvias e decoradas estão presentes.

b)  Nível das competências e habilidades:  É nesse nível que o estudante sabe fazer; é competente para tal. Neste nível, muitas vezes são aplicados os instrumentos avaliativos que consideram macetes, dicas, tutoriais, passo a passo.

c)  Nível de atitudes e disposição: é neste nível que o estudante assimila aprendizagem. Neste nível ao assimilar os dados, refletindo, questionando, testando, experimentando os mesmos,  o estudante faz com que a aprendizagem fique para ao longo de sua vida. Assim, o desafio  avaliativo desse nível,  é transformar o saber curricular e os seus conteúdos, em uma experiência educativa,  atitudinal.

Dentro das diferentes concepções de avaliação,  podemos classificar em três:

1.  Avaliação DA aprendizagem:  está voltada para a aprovação,  classificação,  índice de qualidade,  e é do tipo Somativa, ou seja, instrucional,  de caráter quantitativo.

2.  Avaliação PARA a aprendizagem: está voltada para a melhoria da aprendizagem focada no professor.  É do tipo formativa, pois considera o processo como um espaço de formação continuada.  Conforme o professor evolui no processo de ensino, espera-se que o aluno também o faça no processo de aprendizagem.

3.  Avaliação COMO aprendizagem:  parte do tipo diagnóstico, onde ocorre a verificação do conhecimento. Através de um processo de automonitoramento, autocorreção, ajustes  e feedbacks constantes,  o aluno assume o papel central,  aprende sobre si, reflete sobre suas atividades e atitudes e tem a possibilidade de avaliar por pares.

Na avaliação como aprendizagem,  o papel do professor está sempre sendo ressignificado, pois o mesmo além de monitorar os processos metacognitivos,  pode possibilitar através de feedbacks descritivos e reflexivos (portfólios), as boas práticas de aprendizagem.

Assim, concluo que, a reflexão que proponho é sobre o processo avaliativo, sem um juízo final estabelecendo se um é melhor ou pior que o outro.  As diferentes formas de avaliação são aplicadas de acordo com as diferentes perspectivas e objetivos de aprendizagem.  Cabe ao coletivo educativo da escola,  a partir de um diagnóstico sério desenvolvimento e discussão,  verificar as possibilidades de um ou outro tipo de avaliação. 

Ótima semana!

Boas reflexões!

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sábado, 4 de fevereiro de 2023

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CHAT GPT E O CONTEXTO EDUCATIVO - ALGUMAS REFLEXÕES PARA INICIAR O ANO LETIVO ESCOLAR DE 2023!

Possivelmente você já ouviu falar do Chat GPT.  Se você não ouviu falar, ou ainda não leu nada sobre, segue uma definição do próprio chat GPT:

(https://chat.openai.com/chat - 04.02.2023)

Por ser de fácil acesso, utilização e de linguagem acessível, ele está sendo acessado por bilhões de pessoas no mundo todo. A pretensão aqui, não é falar sobre aspectos positivos ou negativos do Chat GPT no uso escolar.  Entusiastas da tecnologia educacional, possivelmente apontarão metodologias, dinâmicas e macetes de como utilizar pedagogicamente esse recurso.  Outros, mais conservadores no campo da educação, buscarão de imediato formas de impedir o acesso ao chat GPT pelos estudantes no campo escolar.

Dentro de uma concepção educativa voltada à formação integral do ser humano, trago  alguns tópicos de reflexão no sentido de orientar as práticas educativas no cenário do Chat GPT.

Como o primeiro tópico para reflexão,  educação humana é um processo de proximidade. O ser humano, por natureza, é um animal gregário, gosta de estar próximo dos outros para se sentir reconhecido por e em si.  Dentro desta dinâmica da natureza humana, possibilitar a proximidade do humano com humano, fortalece ainda mais a humanidade que cada um tem como essência.

Em segundo, o ser humano tem um sentimento intrínseco de alteridade, ou seja, a dimensão humana requer que nos colocamos no lugar do outro, sentindo o que o outro sente, refletindo sobre o que o outro pensa. Colocar-se no lugar do outro, é no contexto escolar, uma aprendizagem que envolve uma relação complexa de professor para aluno, aluno com aluno, de professor com professor.

Em terceiro, o ser humano é um ser espiritual, místico, criativo. Sua abordagem lógica está no pensamento objetivo, o restante é subjetividade, emoções, criação. A escola precisa ser esse lugar, onde além do ensino dos conteúdos curriculares objetivos, também possa ser um espaço de cultivo da espiritualidade e da criatividade.

Em quarto lugar, a dimensão da evolução humana enquanto a abordagem biológica, filosófica sociológica, não são construídas por estruturas pré-determinadas, mas é no conflito do encontro de pessoas que se constroem as ideias, e essas motivam as ações.  Se não há encontro, não há conflito; não havendo conflito, não há ideias. Se não há ideias, não há motivação para a ação. Assim, criar e evoluir são  possíveis somente dentro da dinâmica do encontro.

Por último, o encantamento é o elemento motivacional para aprendizagem.  No encantamento cabe a dúvida, a pergunta, o diálogo, o encontro.  Veja, por exemplo,  quantos processos criativos ocorrem quando uma criança aprende a ler e escrever.  São muitos, de tamanha complexidade, mas todos gerados pelo desejo e o encantamento com o novo mundo se abre.  O encantamento é desafiador, não aliena... É crítico. O mundo que se abre, novas possibilidades de conhecimento.  

o fetiche (de origem etimológica de 'feitiço') não gera o encantamento, mas a alienação.  Por ser enfeitiçado, o ser humano age de acordo com estímulos pré-determinados por alguém, num movimento de fora para dentro.  O feitiço não é dialético!  Não critica, não amplia... Apenas determina.

Dadas essas reflexões,  cabe aos professores, familiares, e a todos que compõem os espaços educativos formais e informais,  refletirem sobre  como ampliar a proximidade humana nesses espaços,  estabelecendo os vínculos de alteridade necessários ao reconhecimento de si e do outro,  desenvolvendo a espiritualidade, a mística, a criatividade, considerando sempre que a educação se faz no encontro de pessoas mediatizadas pelo diálogo humano.  Por fim,  refletir profundamente sobre os movimentos de fetiches que existem em nossa sociedade e, onde queremos chegar enquanto humanidade.

Boas reflexões!

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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

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RETORNO ÀS AULAS: A MOTIVAÇÃO COMEÇA PELO DIÁLOGO!

Estamos nos preparando para o retorno das aulas, em um novo ano letivo.  É um momento muito sensível no que se refere, entre muitos aspectos, às perspectivas que os professores têm sobre sua motivação para o  planejamento, execução e avaliação dos planos de  trabalho. É grande o desafio de manter-se motivado (a) durante o ano letivo.  Várias são as frentes que  se apresentam como empecilhos para o desenvolvimento integral do trabalho do professor.

Algumas escolas começam o ano com palestras motivacionais, mensagens, momentos de espiritualidade e reflexão, entre outras atividades que dão o start inicial. No entanto, muitas vezes essa motivação inicial aos poucos vai se perdendo.  É preciso sempre realimentar a motivação do professor. Diria fundamentalmente, que esta motivação está na possibilidade da construção de espaços de diálogo dentro da escola.

O diálogo é a essência do repertório educativo para o desenvolvimento de uma docência com substância; ou seja, nele estão presentes a comunicação, os saberes, as inquietações e a transparência das relações humanas que se estabelecem entre o sujeito da educação. O diálogo é fator fundamental para a  solidez da motivação no trabalho educativo.  Através dele as relações se horizontalizam,  se melhoram, se capacitam.

Há outro fator fundamental no diálogo:  a dialética. É através dela que ocorre o movimento crítico do pensamento, da ação pedagógica da escola.  Através da dialética ocorre o movimento de "olhar de dentro para fora"  e de "fora para dentro". É nesse movimento que se celebram os crescimentos, as aprendizagens, as entregas e, também é nele que se reconhecem os pontos fracos, que precisam ser melhorados, discutidos.

Assim, o diálogo é elemento essencial para a motivação dos professores, pois faz com que a motivação não seja algo pronto, "que alguém dá" não passe de mágica, mas algo construído pela equipe de forma comunicativa, implicada, vivenciada, discutida e até mesmo criticada.

Assim, é no diálogo que cada um vai inserindo seu repertório de saberes, reflexões, contribuições e críticas.  É no espaço do diálogo que os conflitos se tornam algo construtivo. É no diálogo que se discutem ideias; não se atacam pessoas! É a partir do diálogo e do movimento dialético que novas interrogações surgem, se avaliam experiências e se apontam sugestões.

E aí? Sentiu-se motivado(a)? Vamos dialogar?

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terça-feira, 24 de janeiro de 2023

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UMA REVISÃO CRÍTICA DO PAPEL DO PEDAGOGO E DA PEDAGOGIA NA CONTEMPORANEIDADE

Só é possível falar de uma revisão crítica do papel do pedagogo  na contemporaneidade,  se ancorado em princípios que assumem como ponto de partida para a educação uma pedagogia do diálogo.  

Esta pedagogia considera, sem a tentativa de fazer distinções formais entre as diferentes pedagogias,  que a realidade é dialética (movimento de contradições e mudanças). Ela introduz no diálogo pedagógico a dúvida e a suspeita sobre a realidade do homem concreto, e das relações que este estabelece com a sociedade real e seus meandros. Assim,  a pedagogia do diálogo está historicamente situada em uma compreensão de homem válida para todos os contextos; ou seja, uma antropologia contextualizada.

Fazer uma revisão do papel do pedagogo na contemporaneidade,  é refletir diretamente,  na teoria e na prática,  a prática social do exercício da pedagogia na educação, bem como vincular essa prática ao ato educativo como ato político e transformador, a teoria vinculada à transformação social.

Por isso,  utilizar a concepção de pedagogo como aquele  que "conduz as crianças",  como outrora entre os gregos se fazia,  é inadequado ao nosso tempo. Hoje, o pedagogo exerce outros papéis. E é sobre esses papéis e a formação acadêmica para os mesmos que cabe a revisão crítica (dialética) da pedagogia. 

Argumento de que  a pedagogia é uma ciência educativa, onde sua epistemologia e conteúdo situacional consistem em existir para criar educação. No entanto,  o que vemos são as ciências específicas conduzindo o processo educativo,  sua gestão, seu sentido e existência. O que as nossas faculdades de pedagogia tem a dizer sobre isso?  Há exceções, que confirmam a regra; mas que de imediato,  são raras.  

Quando se trata da formação  de pedagogos nas universidades/ faculdades, outras perguntas são interessantes de serem elaboradas:  Por que a extinção de muitos cursos de Pedagogia,  uma vez que esta é a ciência da Educação? O que justifica a não existência dessas Faculdades, se o fundamento das próprias é a própria Pedagogia?  Talvez,  o grande desafio para as Faculdades de Pedagogia é formar gente capaz de assumir sua autonomia epistemológica, de perceber as contradições do processo formativo com oportunidade formativa, como semente de libertação da alienação técnica sobre a dimensão humana do "criar educação" -  função primeira da pedagogia.

Por fim,  falar em reconstrução,  é assumir que estamos vivendo um momento em que o pedagogo tem a possibilidade de repensar a sua função na sociedade; ou seja,  repensar a educação como tarefa crítica, reconstruindo com isso, a própria sociedade brasileira e a sua condição educativa.  Mais que ter a função de perceber a contradição,  é necessária a consciência da contradição, e perceber que a mesma é histórica, filosófica e sociologicamente fundada a partir das contradições inerentes a sociedade brasileira.

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sábado, 7 de janeiro de 2023

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MUDANÇA DE PARADIGMA REQUER PRÁTICAS EDUCATIVAS SIGNIFICATIVAS


O ano de 2023 se inicia, e com ele os desafios que se nos apresenta.  Não é um ano comum. É um ano que podemos esperar muitas mudanças, nas mais diferentes áreas da sociedade,  sejam elas econômicas, políticas, antropológicas, estruturais,  mudanças institucionais e educativas.

Uma das grandes mudanças  que podemos esperar, está no papel significativo do educador.  De professor à alguém comprometido com a vida.  Não apenas um Pensador,  mas aquele que ao pensar, compromete-se com a existência de si e do outro.  Aquele que reflete a teoria inserido em uma prática de liberdade, uma prática transformadora. 

A mudança de paradigma Em uma sociedade dinâmica,  conduz há uma relação de conflito entre dominantes e dominados.  Nesse sentido, a educação não pode oprimir, mas servir a libertação de todos aqueles que ainda estão inseridos no paradigma da dominação.  Entre os diferentes entendimentos de dominação, friso  o paradigma da ignorância, da superfície, da mediocridade.  Libertar-se desse paradigma, é compreender a educação que resgata o seu sentido primeiro:  a humanização da pessoa humana.

Portanto,  a mudança de paradigma requer  que as práticas educativas, sejam elas escolares ou extraescolares, estejam fundamentadas em um diálogo crítico, possível e passível de abertura para novas ideias, construções, aproximações e distanciamentos, sempre quando necessários. Assim,  o novo paradigma é incompatível com a massificação do pensamento,  a intolerância, a negligência,  e a ausência de compromisso societário e humano.

A figura, a postura e o exemplo, são condições epistemológicas das quais o professor não pode abrir mão.  Precisa estar munido de um repertório teórico suficientemente fundamentado em uma cultura  que possibilita práticas de  humanização.  Logo, os espaços escolares e extraescolares necessitam se configurar como experiências significativas.

Outrossim,  a grande aposta é no ser humano, nos seus anseios mais íntimos, angústias, intencionalidades e, principalmente em seu projeto de vida.  Uma educação focada no projeto de vida do indivíduo, possibilita ao mesmo transitar no novo paradigma, situando-se como ser humano político, tolerante, acolhedor e conhecedor de si, do outro e do mundo.

Essas são algumas inquietações que apresento para o novo paradigma educativo que se configura nos novos tempos.  Quais são as suas?  Boa reflexão!

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sábado, 2 de outubro de 2021

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PROJETOS - PROJETAR - PROJETE-SE!


Frequentemente nos deparamos com a necessidade de criar projetos. São projetos que integram os nossos anseios, os nossos saberes, e a necessidade de aprendizagem. Aristóteles, filósofo grego antigo, dizia que o homem nasce com o desejo de aprender. Essa máxima, é o que nos orienta no decorrer de toda vida. Nunca paramos de aprender. Nunca estamos satisfeitos com o que sabemos. Estamos sempre querendo saber mais, aprendendo.

O filósofo Sócrates, dizia que quanto mais o homem sabe, tanto mais precisa ter a humildade em reconhecer sua própria ignorância. Quanto mais nos abrimos ao saber, tanto mais reconhecemos que não sabemos, e que, portanto, temos muito ainda a aprender.

Por isso é necessário projetar. Os projetos nos ajudam a mobilizar o que sabemos, em direção ao que não sabemos. Os projetos nos ajudam a sermos mais humanos e, reconhecer nossa própria humanidade. Quem projeta, está sempre com a noção do inacabado, do incompleto, do necessário a ser feito. Jean Paul Sartre, filósofo contemporâneo, dizia que o homem é um eterno insatisfeito. Em outras palavras, quando o homem realiza um projeto, nunca se dá por satisfeito, sente de imediato a necessidade de continuar a projetar e a projetar-se.

A dinâmica de projetos inserida nos diferentes lugares, nos ajuda a reconhecer nossa capacidade criativa de transformar o meio, a partir da percepção concreta e material dele mesmo. A transformação está, em primeiro lugar, ao olhar para a realidade e reconhecer que ela pode ser mais do que momentaneamente é, verificando seu potencial de empreendedorismo social, humano e sustentável. Em segundo, o olhar crítico sobre a realidade, nos possibilita desmobilizar a tradição e a reprodução da negação do potencial criativo e de aprendizagem. Esse olhar contribui no sentido de criar novos projetos, novas ideias, novas vivências. Em terceiro lugar, os projetos nos possibilitam a vivência de nossos saberes, de nossas aprendizagens, e ajudam a avaliar o quanto nos apropriamos da realidade em que estamos inseridos.

Assim, como afirma o filósofo Martin Heidegger, ao nos projetarmos sobre o mundo com liberdade, também agimos sobre ele com responsabilidade. A dinâmica do projeto, seja ele de vida, profissional, escolar, exige de nós responsabilidade sobre nossas ações. Assim, projetar-se é responsabilizar-se pela transformação da natureza social e humana em cultura, e consequentemente, a transformação de sua própria condição. Quando transformo o meio através dos meus projetos, também me transformo! É uma relação de liberdade que exige responsabilidade.

Por fim, a dinâmica de projetos exige com que direcionamos nosso olhar ao outro. Realizar um projeto, é nunca estar só; é estar sempre em relação. Nossas ações, pensamentos e transformações, transformam também a relação com o outro e o transformam. Esse exercício de mudança, proporcionado pela dinâmica de projetos, envolve diretamente relações de cooperação e cidadania. Projetar-se e projetar na dinâmica do outro, é cooperar; responsabilizar e responsabilizar-se na dinâmica do outro, é cidadania.

Te desejo muitos projetos! Projete e projete-se!

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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

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A Dimensão Mística do Projeto de Vida


Você já considerou a dimensão místico-espiritual e sua importância na realização do seu projeto de vida? Quem sabe, essa é uma das dimensões mais essenciais na realização do seu projeto de vida e, no entanto, muitas vezes, uma das mais esquecidas. Normalmente, ao pensar o projeto de vida, as questões econômicas, profissionais, afetivas e sociais, ocupam um lugar de destaque. Não menos importante, é a dimensão espiritual.

A dimensão espiritual se difere na condição racional, pois enquanto a racionalidade busca as diferentes explicações para os diferentes propósitos presentes em seu projeto de vida, a espiritualidade desenvolve o sentido do propósito do mesmo. A vida humana, a partir da espiritualidade, é uma constante busca de sentidos, e essa busca é o vínculo que caracteriza a relação do ser humano com o transcendente.

No sentido existencial e espiritual do ser humano, e ao colocar esse sentido no projeto de vida, percebe-se que a condição humana está localizada em um horizonte mais amplo do que o bem-estar imediato e material que passamos boa parte de nossas vidas. Assim, a dimensão espiritual, ao ajudar o ser humano a encontrar o sentido do seu propósito, também o ajuda a estabelecer um diálogo com as outras dimensões existenciais.

Aprofundar a espiritualidade, está em ampliar a relação humana-divina como experiência vivencial. A espiritualidade é tão presente no projeto de vida, que chega a ser fenômeno que norteia o amadurecimento intelectual, afetivo esocial da pessoa  humana. É através da espiritualidade que o projeto de vida amplia suas metas em direção a uma experiência colaborativa, cooperativa e coletiva das vivências humanas.

Alimentar a espiritualidade e a dimensão mística, criando ambiências de comunidade, de grupo, caridade, devoção, crença, entre outros, favorece o aprofundamento das dimensões humanas e sua realização. Através da espiritualidade, o ser humano se realiza enquanto humano. É na condição espiritual, coerente com a dimensão material, que ocorre o amadurecimento individual, sua vocação, e felicidade.

Por último, a dimensão espiritual convoca ao engajamento comunitário. É da espiritualidade viva, concreta, que os movimentos comunitários ganham sentido, junto com ele, as pessoas que dele participam. É nesse lugar, que se amplifica as relações sociais profícuas em direção ao crescimento humano de cada um de nós.

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sábado, 4 de setembro de 2021

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A DIMENSÃO PSICOAFETIVA - A AUTOCRÍTICA E O AUTOCONHECIMENTO - NO PROJETO DE VIDA

Você já pensou sobre a importância de seu processo de personalização em meio a sociedade? Você já pensou o quanto você é diferente de todas as outras pessoas? Você já pensou como desde sempre buscou tornar-se pessoa? Para responder essas perguntas, e quem sabe possibilitar outras reflexões em torno das mesmas, vou trazer algumas ideias sobre a importância do desenvolvimento da dimensão psicoafetiva no seu projeto de vida.

A dimensão psicoafetiva é o processo de personalização das descobertas, da aceitação de si, da integração e do trabalho para construção de si. Quando falamos em dimensão psicoafetiva, estamos falando de nós mesmos. Não se trata de avaliar a sua relação com os outros, mas consigo. Por isso, a relação psicoafetiva também pode ser entendida como a minha relação comigo mesmo.

Para desenvolver a dimensão psicoafetiva em um projeto de vida, é importante o autoconhecimento e autocrítica. Sem eles, o ser humano se torna incapaz de analisar as diferentes situações que o envolvem e, envolvem a administração dos próprios conflitos e dos conflitos com os outros.

Através da autocrítica - crítica de si - podemos entender com objetividade e de maneira equilibrada o por quê agimos de determinada forma em indeterminada situações. Estamos sempre mudando, e compreender essas mudanças favorece um melhor relacionamento consigo, garantindo saúde mental, espiritual e afetiva, de forma plena. A falta de autocrítica, leva o ser humano à ações não planejadas e, portanto, de resultados não esperados. A falta de autocrítica, faz com que o ser humano transforme pequenos conflitos em grandes confrontos.

Outra dimensão importante é o autoconhecimento. É nessa dimensão que buscamos valores oriundos de nossas concepções educativas/formativas. É nela que ampliamos a reflexão ética de como devemos agir, diante de determinadas situações. A dimensão do autoconhecimento também ajuda a pessoa a se afirmar enquanto pessoa, a valorizar-se, a priorizar-se e, ao mesmo tempo, valorizar o outro e a priorizar o outro como referência para sua construção.

É através do autoconhecimento e da autocrítica que relacionamos outras dimensões da nossa constituição como pessoa: os sentimentos, corpo, afetividade, valores, habilidades, trabalho, lazer, dinheiro, bens materiais e espirituais, saúde, entre outros.

Por isso, é importante para o projeto de vida e sua realização, que essa dimensão -  a dimensão psicoafetiva -  seja entendida, sentida e vivida em sua plenitude. Isso requer compreender a vida em sua totalidade, sem afastar-se dos outros, mas também, sem deles ser vítima. Autocrítica e o autoconhecimento favorecem a construção do projeto de vida com autonomia e emancipação.

Boas reflexões!

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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

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VOCÊ JÁ PENSOU EM SEU PROJETO DE VIDA?

A trajetória do ser humano é, para o próprio ser humano, um dos maiores enigmas a ser vivido. O propósito de sua vida, é algo a ser descoberto. Ele não é dado, é decisão! Ninguém foge dele! Ter um propósito para a vida vai além de uma visão superficial, mediana ou até medíocre de sua própria existência. A existência, quando vivida de forma coerente com o propósito, acaba por ser um desafio. Sabemos que o maior desafio do propósito humano, é a sua realização. Muitas pessoas têm propósitos, poucas o realizam.

Para pensar sobre seus propósitos, sugiro três questões:

1. Onde pretendo chegar? Nessa primeira questão, está o sonho. Ninguém tem um propósito, sem antes ter sonhos. Dentro dos sonhos estão as nossas metas, nossos ideais, o lugar onde me encontro e a responsabilidade que tenho. Em outras palavras, sonhar é ter a consciência a respeito de si mesmo e o lugar que ocupa no mundo.

2. Onde e como estou? Nessa questão estão as categorias da situação, do contexto, o rumo que me desejo; enfim, é a consciência da realidade que sou e na qual me encontro.

3. O que preciso fazer? Está nessa pergunta a dimensão prática do propósito de vida. Quais são os passos que preciso/ devo fazer? Em outras palavras, quais ações são necessárias para realizar o projeto sonhado? Essas ações são concretas. Elas implicam em sair de um lugar muitas vezes confortável ao qual se está, e caminhar em direção ao que deseja. Exige movimento!

Em síntese, o projeto pessoal de vida é a organização dos sonhos, que leva em consideração a realidade a qual a pessoa se encontra, bem como, a necessidade e a urgência de dar passos concretos que respondam às diferentes realizações das dimensões da vida.

Por vezes, para pensar o nosso projeto de vida, precisamos de uma ambiência, ou seja, a construção de um clima especial, propício para o exercício de concentração, escuta atenta e  resposta elaboração do projeto. Considere também que, a escrita do projeto é a materialização do seu objetivo. Portanto, deixe fora dele decisões mesquinhas ou egoístas, superficiais, ambiciosas, ou outra qualquer que seja incoerente com a sua opção.

 Por último, faça a melhor opção: opte pela sua felicidade e, pela felicidade das pessoas que você ama! Construa seu projeto de vida! Se precisar de algumas dicas ou auxílio, conte comigo! 

Boas reflexões!

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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

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DO CONSELHO DE CLASSE AO CONSELHO DE GRUPO


 Você já ouviu a expressão "Conselho de Classe"? Pois bem, Esta é uma expressão utilizada quando nos referimos às práticas escolares, em especial, quando se quer verificar o andamento de um processo pedagógico. No Conselho de Classe reúnem-se professores, coordenadores, diretores, das mais diferentes áreas do conhecimento, e também de diferentes turmas. Debatem-se nesse espaço, questões relativas ao andamento da aprendizagem, disciplina, angústias e algumas propostas de melhorias para aquela determinada turma.

O Conselho de Classe é uma prática da Escola Tradicional. Desde as primeiras escolas do período da escolástica medieval, havia o Conselho de Classe. Nessas escolas, por serem internatos, o Conselho de Classe tinha a função de regimentar e fazer cumprir as normas escolares voltadas principalmente ao controle disciplinar dos estudantes internos. Era um espaço onde havia uma lista de “conselhos” indicados para cada situação vivenciada por cada turma.

Partindo do entendimento da escola na Modernidade, em especial, a escola voltada a reprodução da fábrica e da sociedade, o termo Conselho de Classe passou a significar a legitimação do conflito de classe social existentes na sociedade. A escola no período moderno, acaba reproduzido em sua dinâmica organizacional e pedagógica, a ordem social e sua organização.

O termo "classe" foi criado por Karl Marx, se referindo a uma sociedade estratificada em dois grupos: os burgueses (opressores) e os operários (oprimidos). Segundo Karl Marx, as relações entre classes são conflituosas. É esta relação de conflito de classe, que marca a história da humanidade. Pensar em classe, na condição social, é uma forma de compreender os conflitos inerentes ao próprio sistema capitalista. Pensar em classe, no ambiente escolar, é a reprodução da sociedade na estrutura da escola, onde costumeiramente utilizamos a expressão classificar - termo derivado de classe.

Quando pensamos a escola na dinâmica democrática, em especial nos nossos tempos, precisamos mudar essa prática de Conselho de Classe para a prática de Conselho de Grupo. A prática de Conselho de Grupo é democrática, pois pressupõe que cada turma disposta em assembleia, possa ser capaz de autorregular-se; ou seja, constituir-se como um espaço em que, através da participação consciente, da escuta ativa, do respeito à diversidade, e do compromisso coletivo, possam os estudantes saírem da condição passiva da obediência, para condição ativa da cidadania.

É difícil de conceber a construção da cidadania em uma escola, onde as práticas autoritárias reproduzam a natureza dos conflitos sociais. No entanto, para se construir cidadania, é necessário a educação moral do indivíduo. Nesse sentido, a convivência grupal regulada por princípios construídos pelo próprio grupo, colocando em primeiro lugar a cooperação, constitui-se num espaço de construção moral da cidadania.

 Assim, para concluir, a construção do Conselho de Grupo em uma escola, é um desafio que caminha desde a gestão escolar, o currículo, as práticas pedagógicas dos professores e sua formação profissional, bem como a sensibilização dos estudantes. Não se trata de ter sucesso ou não, mas de transformar a escola em um lugar de amplificação das vivências democráticas. Assim, consequentemente, teremos uma sociedade mas atenta a cidadania e a democracia.

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sexta-feira, 30 de julho de 2021

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PROFESSOR-PESQUISADOR E O ENSINO HÍBRIDO: LER, PESQUISAR, ESCREVER NA NOVA ESCOLA

A construção de conhecimento coletivo e a pesquisa escolar, tem relação intrínseca quando se pensa a educação nos dias de hoje. A escola deixou de ser um espaço de transmissão de conhecimento, para ser um lugar onde se socializam as diferentes perspectivas de saberes. Não há quem saiba mais, ou quem saiba menos; existem, porém, aqueles que compartilham saberes construídos ao longo de suas vidas. Não há na escola de hoje, lugar para arrogância do saber. Não há alguém imaculado (a), porque tem um arcabouço cultural mais refinado, ou em contrapartida, popular. Não se valoriza na escola, esta ou aquela perspectiva teórica como a melhor. Na nova escola, dentro de um discurso democrático, há lugar para diferentes entendimentos que vão desde concepções políticas, religiosas, econômicas, filosóficas, artísticas, culturais.

Na escola de hoje, a construção coletiva de conhecimento se dá entre os pares. São professores, educadores responsáveis por sua missão, que refletem sobre sua prática pedagógica. Refletem, pois entendem que através da reflexão ampliam a dimensão ética de sua profissão. Entendem que a reflexão melhora seu saber, sua relação com o outro, e também o ajudam a entender melhor a complexidade do processo educacional.

A construção coletiva de conhecimento, só é possível quando o professor também se dedica à pesquisa. Não se trata de existir setores/disciplinas de pesquisa dentro de uma escola, mas, a constituição da escola como um lócus de pesquisa. É sempre bom lembrar que a pesquisa nasce de uma inquietação, um problema, uma reflexão. A escola que favorece o ambiente inquieto, problematizador e reflexivo é, por excelência, uma escola de pesquisadores.

Professores-pesquisadores são aqueles que estão inquietos diante de seu trabalho, que problematizam-o, que refletem sobre seus saberes, suas práticas de ensino e aprendizagem, e também as avaliativas. Professores-pesquisadores não se reduzem a um currículo positivista, ou seja, onde os conhecimentos são vistos como verdades a serem transmitidas. Professores-pesquisadores, estão sempre em constante movimento de troca com seus pares, pois entendem que a experiência de educação, só faz sentido quando compartilhada.

Assim, na escola de hoje, a pesquisa e a produção coletiva andam juntas. Além de inquietar-se, problematizar e refletir sobre seus saberes e práticas pedagógicas, sobre o seu cotidiano concreto, os professores-pesquisadores também escrevem. Eles entendem que a escrita é um exercício de imortalidade ou, se for o caso, de eternidade. Pesquisar,  ler e escrever, fazem parte de um roteiro dialético -  que coloca em movimento crítico -  as palavras do mundo e o mundo das palavras. 

Para ampliar ainda mais a leitura, a escrita e a pesquisa, a escola de hoje oferece o ensino híbrido, possibilidade de levar para o estudante a experiência e o exemplo educativo do professor-pesquisador. O ensino híbrido possibilita autonomia do estudante, sem perder de foco a orientação e mediação do professor. Ensino híbrido, ao contrário de transmissões de aulas presenciais (ensino remoto), amplia a dimensão de autonomia e protagonismo do estudante, bem como a função democrática do ensino. A dimensão da Autonomia e do protagonismo, são desenvolvidas quando o estudante inquieto pelas problematizações da mediação docente, busca em espaços virtuais diferentes entendimentos para complementar, ampliar e complexificar o saber fragmentado da sala de aula. Na sala de aula, a função democrática do ensino se potencializa quando se dialogam os diferentes entendimentos da pesquisa com saberes curriculares, realizando profícuas reflexões.

Por fim, na escola de hoje, ler, pesquisar, escrever individualmente ou em espaços coletivos, juntamente com as metodologias ativas do ensino híbrido, constituem um novo ensinar e aprender. Resta a pergunta: De que somos capazes em nossas escolas? E a resposta -  de tudo isso, e muito mais!

Boa leitura! Excelentes reflexões!

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sexta-feira, 23 de julho de 2021

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NA NOVA ESCOLA QUEM APRENDE, NÃO DEPENDE!

Quem aprende não depende! Escutei essa afirmação dias atrás, de um excelente orientador e mediador de um processo formativo realizado em um coletivo de professores. De fato, aprender vai além do ensinar. Quem só ensina, depende; não aprende. Para ensinar, precisamos antes de mais nada, aprender a ensinar e o que ensinar. A aprendizagem é o centro da escola do futuro.Uma escola onde o ensinar não será mais o centro, mas o aprender.

A escola do futuro é um espaço coletivo de aprendizagem, e não de ensino individual. A escola tradicional, estava mais preocupada em ensinar do que aprender. A figura do processo era o professor.

Estudava-se muitas teorias sobre aprendizagem nos cursos de formação inicial e continuada de professores. Para cada teoria, a necessidade de métodos de ensino. Passou-se com o tempo, a compreender a escola como um lugar de ensino; pior do que isso, de um ensino calcado na transmissão de informações.

O que se espera da nova escola, é que se possa estabelecer uma relação de conhecimento e cultura. Onde há relação com conhecimento seja diferente do que aquela que temos hoje e, a relação com a cultura, seja mediada pelo professor na relação com o conhecimento.

  Na nova escola, o conhecimento está em tudo, assim como na escola tradicional também estava. No entanto, o conhecimento sempre esteve no mundo de forma caótica. Na nova escola, cabe ao professor organizar, dar sentido, e aproximar os sujeitos do conhecimento a partir de uma experiência vivencial, declaradamente reflexiva.

O movimento da tecnologia no ambiente escolar, facilita experiências coletivas de organização do saber. Mas é bom lembrar, que não resolve o problema da aprendizagem, pois este não é tecnológico, é humano. A tecnologia facilita a distribuição das informações, possibilita os encontros, armazena os registros, e pode até ensinar, mas não aprende por ninguém.

Na nova escola, a formação de professores têm como foco o trabalho coletivo, ou seja, ela acontece no próprio trabalho do professor, quando este estabelece uma relação dialética com o seu trabalho e com os colegas. Essa relação é marcada pelo questionamento, pela reflexão, e pela melhoria do fazer, do ensinar, mas principalmente do aprender.

Por fim, a nova escola é a "casa comum" de todos nós. É o lugar de reflexão comum dos professores, estudantes, comunidade. Comum, não significa simplificado, de fácil compreensão. Comum significa comunitário, de compromisso de todos. Na nova escola como casa comum, as relações também são comunitárias. Aprende-se uns com os outros. Ensina-se aprendendo. Avalia-se, fazendo. Emancipa-se, discutindo. 

A casa comum é a nova escola de todos nós, onde quem aprende, não depende!

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sexta-feira, 16 de julho de 2021

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NÃO SE ESQUEÇA DE BALANCEAR!

Muitas escolas chegaram neste final de semana, ou ainda chegaram no próximo, ao fim de mais um semestre letivo. Os alunos e professores entram em recesso escolar. É momento de fazer algo que, diferente da rotina, não nos distancie do compromisso com a escola. Descanso e muita reflexão para os professores. É momento de fazermos um balanço de nosso trabalho, de seu sentido, objetivos e anseios.

Antes de viajarmos, normalmente colocamos nosso carro em perfeito funcionamento, em harmonia. Significa que o levamos até uma oficina para fazer uma manutenção geral. O balanceamento faz parte da manutenção e, e consequentemente, quando bem realizado, possibilita uma viagem mais segura, tranquila e feliz. Fazer o balanceamento de nosso carro é sempre uma atitude assertiva, porque além de econômica em relação aos desgastes dos pneus, da suspensão e de toda máquina do carro, evita transtornos maiores como saída da pista, trepidação em alta velocidade, perda de controle de direção, etc.

Utilizando essa analogia, os professores também necessitam fazer balanceamento. A trajetória escolar oferece à esses profissionais que conduzem os estudantes, momentos de declínio, ou mesmo, ascendência na aprendizagem, na disciplina, na relação. O balanceamento pedagógico permite com que, a condução pedagógica ofereça mais estabilidade durante esses momentos da trajetória.

Mesmo depois do balanceamento pedagógico realizado, é momento de balancear os desgastes emocionais, racionais, afetivos, intersubjetivos, frustrações ou mesmo sucessos que são recolhidos durante a trajetória.

Durante o semestre, por vezes, estamos em um deslize aqui, outro acolá. A escola de hoje, na pós-modernidade, não é um porto seguro, sólida, sem mudanças. A escola é sim, um lugar de frequentes transformações, de incertezas, fragilidades, acertos e erros. No lugar do porto seguro, estão os tristes marinheiros observando os destroços dos velhos portos onde ancoravam suas certezas. Esses portos não existem mais! As certezas desapareceram. No lugar deles, um novo porto, uma nova escola. Ali estão novos marinheiros, atentos ao movimento do contexto do mar. Sabem esses marinheiros que o melhor a se fazer na agitação ou na calmaria do mar, é balancear certezas com incertezas, seguranças com inseguranças, esperanças com desesperança, sentidos com ausências, solidão com presença, tristeza com alegria, etc.

Logo, voltaremos balanceados! A viagem continua! Continuaremos! Paramos um pouco para balancear, rever o que não deu certo, meditar sobre o que não tivemos tempo de refletir, ampliar aquilo que era só uma ideia, e sentir que desde já, mesmo sabendo que as trajetórias nos oferecem desconhecidos solos à pisar, o que balanceamos agora nos possibilitará viajar seguros e tranquilos até onde nós pudermos, e que Deus nos permitirá!

Boa Viagem! Bom descanso! Bom retorno! Não se esqueça de balancear!

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sábado, 10 de julho de 2021

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SEUS DADOS ESTÃO SEGUROS?


Um dos grandes enigmas humanos sempre foi responder as perguntas que fazem referência à sua existência e à sua história. A existência humana, necessariamente, vem acompanhada de sentido, encontrados no mundo material, racional, subjetivo, emocional. Perguntas como, “Quem sou? De onde vim? Para onde vou?”, são questões que os primeiros filósofos já levantavam sobre o ser humano em seu tempo. Ainda hoje, mesmo diante de tantos avanços tecnológicos, políticos, econômicos e científicos, o dilema sobre a resposta das perguntas continua. Acrescenta-se a este dilema, a segurança de dados.

Você pesquisou seu nome na internet? (se não ainda, faça agora...) Você sabe quantos registros fotográficos seus estão online? Seu CPF, RG, CNH, estão publicados na internet, para acesso público? Sabe quantas empresas vendem seus dados, como telefone, email, perfil em rede social, para outras empresas que lhe oferecem produtos? Você sabe quantas empresas de propaganda e publicidade utilizam seus perfis nas redes sociais, considerando seus interesses, para lhe oferecer propaganda de produtos que atendem seu perfil? Sabe quantas pessoas já descobriram alguma coisa sobre você,  porque seus dados estavam dispostos em locais que você não sabia que eles estavam? Enquanto lê esse texto, nesse blog, você tem certeza de que está seguro (a) ao estar conectado na internet?

E os seus dados físicos, suas matrículas, seus registros, suas movimentações bancárias, seus documentos, sua intimidade, entre outros, estão seguros? É, parece que o mesmo dilema que incomodava e fazia os primeiros filósofos pensar, ainda continua nos preocupando hoje.

Vivendo em um mundo, em que não estão separados o real do virtual, a pergunta que fica é: como garantir a segurança de meus dados? Quem sabe, sendo mais prudente e não tão radical, poderia relaborar a questão: como melhorar a segurança de meus dados?  Para isso,  foi criada a LGPD -  Lei Geral de Proteção de Dados.

A LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados, é a lei nº 13.709, aprovada em agosto de 2018 e com vigência a partir de agosto de 2020. Ela serve para garantir a proteção de direitos fundamentais da pessoa humana, como a liberdade e a privacidade, entendendo que estas são fundamentais para livre formação da personalidade dos sujeitos. Entenda, porém, que a proteção de dados pessoais, como o nome, RG, CPF, CNH, e-mail, matrícula escolar, entre outros, estão entre direitos da pessoa humana que garantem à ela uma vida social plena. Quando estes dados se encontram  desprotegidos, também está desprotegida a condição social, ética e moral da pessoa humana, bem como, a sua integridade no convívio social. 

Mesmo que a lei represente um grande avanço, em especial, no tempo de conexão que existimos, o primeiro passo a ser dado quanto aos dados pessoais, é sempre por parte do indivíduo que dele faz natureza. Assim, muitas vezes, a falta de senso crítico e a ilusão pelo mercado por parte dos indivíduos, são oportunidades para os falsários. Por isso, recomenda-se sempre em primeiro momento, fazer uso da informação verdadeira. Pessoas seguras de si, esclarecidas, tem demonstrado maior segurança com seus dados.

 O isolamento social não proporciona segurança de dados. A vida social é sempre uma troca. Assim, não pode a troca ser confundida como posse, aproveitamento, exploração e engano. Parte-se de relações éticas, que fundamentam qualquer relação mais segura. Dessa forma, a reflexão ética sobre o agir, é fundamental para segurança de dados. A ética valoriza os princípios da ação, confere legitimidade às relações sociais.

  Converse sobre a LGPD, discuta LGPD. Proponha em seu ambiente de trabalho, em sua casa, a busca de informações sobre a LGPD. Acima de tudo, não se esqueça: esteja seguro de sí ao realizar qualquer tipo de transação, mediação, troca, que exija seus dados. O esclarecimento é a chave da emancipação!

 Boa reflexão 

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