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sábado, 31 de outubro de 2020

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UMA REFLEXÃO SOBRE A POLÍTICA E ELEIÇÕES



A reflexão de hoje trata sobre a questão da política. Estamos vivendo em tempos eleitorais e, por onde passamos, há pessoas debatendo sobre esse mesmo termo. Afinal, quem não se envolve com a condição eleitoral? A televisão traz propagandas, no rádio alguns comentários...isso quando não somos abordados na rua por candidatos. Entre os candidatos podemos encontrar muitos que já conhecemos, outros que não conhecemos tão bem, e outros ainda, só aparecem neste momento eleitoral. Os interesses dos mesmos são os mais diversos. Alguns buscam renda na política, outros preparam o terreno  do coletivo; outros ainda, estão se dedicando à sociedade. Qual será o melhor a escolher? Quero trazer algumas reflexões em torno da política.

Conforme já dizia Aristóteles, o homem é um animal político, ou seja, já nascemos com a condição política e, somente nessa condição, é que podemos ser felizes. No entanto, é a educação política que faz o homem político. A inclinação natural à vida política, não garante que numa sociedade tenha bons políticos, mas sim, através da qualidade da educação como o lugar do pensamento crítico que pode formar bons políticos e transformar a sociedade.

Trago algumas perguntas para discussão: 

É possível alguém dizer que não é político? Não! Todo ato humano, é sempre um ato político. Mesmo o ato de discordar a política é um ato político. 

Cada ação que faço, não está expressando a forma como penso como vejo o mundo? Sim! Não podemos separar o pensamento da ação. Afinal de contas, tudo o que pensamos orienta a nossa ação e, o que vivemos é refletido pelo nosso pensamento. Portanto, o pensamento político e o conhecimento da política nos impulsionam a viver politicamente. 

Existem atos é pensamentos neutros? Não! Segundo alguns filósofos políticos, todo ato é em primeiro lugar resultado de nossa consciência, bem como uma tomada de decisão sobre o que se deve e o que não se deve fazer. Nesse sentido, o posicionamento dos nossos pensamentos e de nosso ato, é sempre uma questão ética.

Posso delegar todo o meu direito a escolher um representante e decidir? Na democracia delegamos parte de nossa responsabilidade política, mas não a sua totalidade. Nossa democracia é representativa, no entanto, elegemos nossos representantes para governar, mas o povo continua sendo o soberano político 

Quando sou obrigado à escolher um representante pelo voto exerce um direito ou é uma obrigação? Pode haver os dois entendimentos. No entanto, para todo aquele que se considera cidadão responsável pela sua sociedade, pela sua cidade, seu bairro, sua vida, assume o direito ao voto como uma necessidade de transformação da sociedade. Assim o voto não se torna uma obrigação, e sim um direito.

Ser cidadão hoje, implica em ser um ser político? A cidadania está relacionada aos nossos direitos e deveres, mas também a nossa participação nos processos decisórios dos governos. 

Por último, a política é uma atividade específica de alguns profissionais? Existe a profissão do político. No entanto, a vida social sempre é política e, isso não depende somente dos profissionais da política mas do engajamento de todos nós. 

Portanto, nessa eleição converse com os candidatos, troque ideias, amplie seus saberes e, participe! Sua comunidade política agradece!

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sábado, 24 de outubro de 2020

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O FILÓSOFO ESPINOSA NOS ALERTA: A SUPERSTIÇÃO POLÍTICA É PERIGOSA!


Estamos vivendo um tempo de decisões políticas, em que muitas ideias, concepções e crenças se manifestam. Por todos os lados, encontramos pessoas discutindo sobre diferentes e divergentes temas que envolvem política. De fato, toda vida coletiva passa por decisões políticas. Apresento a seguir, significativas contribuições do filósofo Baruch Espinosa (1632-1677) no campo da política.

Inicialmente, Espinosa em sua filosofia afirma que Deus é uma substância que comporta todas as outras; ou seja, tudo está em Deus. Sendo que a principal caraterística de Deus é, segundo o filósofo, a liberdade - tudo quanto Deus comporta também é livre. Assim, a essência da  natureza humana é a liberdade. Partindo dessa ideia, Espinosa diz que a Política deve afastar-se de concepções que desprezam a natureza humana, que não afirmam a liberdade. Para tanto, a boa política além de afirmar a liberdade humana como princípio, deve também conceber o homem como ele é, em sua condição material, humana, social, concreta, etc.

Os governos, na gestão das leis e do Estado, não podem de forma alguma, sobrepor os interesses particulares de seus governantes sobre o direito natural, estando assim fundado na defesa da Vida, Liberdade, Dignidade e Propriedade. Uma forma de concretizar a boa política para pessoas reais, é na perspectiva do filósofo, priorizar e defender esses direitos e, somente o Estado o pode fazer.

Sabemos, porém, que a nossa natureza é marcada pelo desejo de poder, pelo egoísmo, pelo desejo de governar e não ser governado. Segundo Espinosa, não se trata de conceder direitos, de forma assistencial, mas formar um corpo político que garanta a participação de cada um e de todos. Nesse sentido, Espinosa defendia a Democracia que, segundo ele, é o regime de governo mais propício para a realização dos interesses humanos. Somente a democracia é capaz de realizar a máxima de que as pessoas querem governar sem serem governadas. Esse ideal só é possível quando os cidadãos participarem do governo e da elaboração das leis.

Porém, ao elogiar a liberdade, Espinosa nos alerta sobre o surgimento da superstição política, que leva os cidadãos a adorar os governantes como se fossem deuses, ou de outra forma, detestá-los como se fossem pragas. De uma forma ou outra, Espinosa nos lembra que a superstição é o meio mais eficaz que os maus políticos utilizam para dominar as massas. 

Uma vez que a política está voltada para a concretização da liberdade intrínseca à natureza humana, ela não pode estar orientada para a submissão. Políticos que atentam contra a liberdade, não prejudicam apenas um indivíduo, mas toda uma sociedade. Estão apenas interessados em acumular cargos e honras, do que gestar o bem comum. Para combater a superstição, e é sempre bom lembrar, os interesses particulares em matéria de política, devem sempre estarem direcionados para beneficiar toda a coletividade.

Assim, fique atento aos discursos supersticiosos e as promessas mirabolantes que, em última análise, priorizam os interesses de poder e egoísmo individual. Uma boa proposta política é aquela que afirma a realização da liberdade em todas as suas dimensões. 

Para finalizar, é sempre bom lembrar da célebre passagem do Hino Riograndense: “Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo!”. Que Espinosa nos ajude amadurecer politicamente! Amém. 

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sábado, 17 de outubro de 2020

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O(A) MELHOR PROFESSOR(A)!?!

É comum ouvir entre os estudantes debates sobre quem são os melhores professores. As opiniões são diversas e diferem umas das outras nos critérios empregados para qualificar. Para alguns, os melhores professores são aqueles mestres que ensinam muito conteúdo, são aplicados nos livros, ensinam teorias, resolvem exercícios. Para outros, os melhores professores são aqueles que não são conteudistas, preferem ensinar uma quantidade menor de conteúdos e se aplicam mais em explicações, experiências, etc. Outros ainda opinam que o melhor professor é aquele que conta histórias, simulando situações de aprendizagem. Mais que isso, outros afirmam que o melhor professor é aquele que é afetivo, oferece o abraço, o ombro para qualquer situação, seja ela de tristeza ou está junto para comemorar alegrias. Essas opiniões ainda divergem quanto ao nível de escolaridade dos alunos, idade, experiência escolar e cultural. Ainda há outras opiniões sobre...

Recolhendo essas e outras opiniões sobre o(a) melhor professor(a), fui ao longo de minha trajetória escolar, universitária e, hoje na profissão docente, sintetizando algumas aproximações que provocam reflexões sobre o papel tão importante desses mestres, presentes e referência na vida das crianças e jovens. A partir das percepções recolhidas, das leituras realizadas, e das reflexões produzidas, o melhor professor é aquele, independente de suas metodologias, ensinar ler as palavras da escola e na leitura das palavras, provoca a leitura e a compreensão do mundo. Para ensinar a ler o mundo, o melhor professor precisa pronunciar o mundo e pronunciar-se nele. Pois, mais que anunciar, o melhor professor sabe que a pronuncia do mundo é a garantia da emancipação, da autonomia e da liberdade de seus alunos. 

Pronunciar exige movimento de estar junto, próximo, sentindo “cheiro de gente”. Educar é um ato amoroso. Não posso amar, se não gosto de cheiro de gente. Gente de todas as culturas, as etnias, os sotaques, os palpites e as economias. Gostar do cheiro de gente é humanizar o outro e, no outro humanizar-se. Humanizar é permitir o movimento emancipador de que a leitura da palavra e, na palavra a pronúncia, que não só anuncia, mas também denuncia, sirva de condição de educador.

O melhor professor aprende à ler o mundo quando descobre que é a sua pronúncia no mundo que educa, e que educar é um ato de amor. Amar é gostar do cheiro de gente!  Gostar do cheiro de gente, é amar gente! Gente de todas as condições sociais, econômicas, culturais, religiosas...E amar gente, gostar de cheiro de gente, os professores que ensinam ler as palavras e ler o mundo, sabem bem. Amar e ensinar a ler as palavras e o mundo, bem como pronunciar o mundo, exige comprometimento com o que se pronuncia.

Portanto, para ser o melhor professor, não há um padrão a ser seguido. Mas, ao ter o seu próprio jeito de ser, o seja verdadeiramente ou simplesmente, professor...Professor na palavra, no mundo, na pronuncia e no amor. 

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sábado, 10 de outubro de 2020

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“OS PROFESSORES NÃO FAZEM NADA!”


Uma das situações geradas pela falta de conhecimento sobre qualquer tema, é sempre a incerteza na hora de agir. A incerteza gera a dúvida. Diante da dúvida, algumas pessoas preferem a reflexão, outras a generalização de juízo. Em relação ao retorno às aulas presenciais, essas duas posturas, muitas vezes, tem entrado em conflito. A reflexão é, com certeza, sempre a melhor postura. No entanto, observamos que a generalização de juízo tem se disseminado quase como uma onda de ódio, principalmente no que se refere à condição do professor. Da condição de juízo, ao comportamento agressivo, existem discursos que sustentam que os “professores não fazem nada”. 
Nesse sentido, penso que é pertinente refletir sobre.

Os “professores não fazem nada!”, porque ensinam a ler a palavra e o mundo. Se você está tendo o privilégio dessa leitura, e sobre ela está produzindo suas reflexões, agradeça ao professor que te ensinou à ler e te provocou à pensar. Sem a presença do professor, a leitura e a cultura da palavra, bem como a sua interpretação de mundo, seriam limitadas a reprodução do senso comum.


Os “professores não fazem nada!”, porque estão em casa. Em tempos anteriores à pandemia, era consenso de que o trabalho do professor não se encerrava na escola. Ao chegar em casa, o professor tinha provas e trabalhos para corrigir, aulas para planejar, entre outros. Além disso, os professores sempre foram protagonistas sociais, participando da vida política, social, religiosa, econômica, etc., de sua comunidade. Essa rotina continua, com um agravante: todo o trabalho do professor está em sua casa. Como todos que estão trabalhando em “home office”, o professor precisou adaptar sua casa, sua rotina, sua família e tudo que está em seu cotidiano ao seu trabalho.


Os “professores não fazem nada!”, porque educar virtualmente não é isolar-se. Segundo as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), o distanciamento social é a melhor forma de evitar o aumento das contaminações do COVID-19. Distanciar-se, não é isolar-se. A educação virtual nos permite que estejamos presentes mesmo que fisicamente distantes. Os professores, inseridos ou não em ambientes virtuais educativos, buscaram sempre ser presença. Essa presença vem de encontro a utilização de diferentes metodologias utilizadas pelas escolas e redes de ensino.


Os “professores não fazem nada!”, porque consideram o diálogo familiar como valor. A escola tem o seu valor social - é inegável. Mas, o que seria a escola sem a família como valor? Desde sempre, os professores buscaram dialogar com a família, porque entendem que nela estão presentes valores fundamentais que vão orientar ética e moralmente a construção do sujeito. Portanto, causa estranhamento aos olhos dos professores a exaustão de convivência ou relacionamento de pais com filhos. Nesse sentido, a escola não pode ser vista como uma válvula de escape para diminuir o tensionamento das questões familiares e vice-versa. O diálogo no grupo familiar, possibilitando a melhoria da cultura organizacional da família precisa ser intenso. O mesmo serve para a escola. Portanto, que continuem os diálogos profícuos entre escola e família!


Por fim, “professores não fazem nada!”, pois não estão na mídia, não tem altos salários, são pessoas simples, constituem um patrimônio intelectual memorável, têm sentimentos, ensinam a pensar e a fazer, discutem dicotomias...enfim...ensinam e gostam de cheiro de gente! E, tudo isso, é porque os “professores não fazem nada!”. Amém.

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sábado, 3 de outubro de 2020

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A INCRÍVEL AVENTURA DE EDUCAR PELO AMOR

Desde o início de nossa experiência existencial, vivenciamos a incrível aventura da educação. Através de nossas aprendizagens, nossos pais e professores perpetuam sua eternidade em nós. Através de nossas aprendizagens, também vamos nos eternizando neles. Então educação está sempre em uma relação de que, aquele que ensina, também aprende. E a primeira aprendizagem, a mais básica e - por isso base, é que não há educação sem amor. Assim, a educação se constrói sobre o princípio do amor.

Não é porque o amor é a base da educação, que amar em educação é simples. O amor, entre os gregos antigos, tinha trẽs conceitos: o Amor Philia - Amor de pais para filhos; o Amor Eros - Amor entre os apaixonados; e, por fim, o Amor Ágape - Amor Transcendente, que vai além da própria condição de quem ama. O fantástico da aventura humana de educar está na condição Ágape, um amor incondicional, que não estabelece condições, que transcende qualquer dimensão condicional, seja ela de cor, classe social, sexo, religião, etc.


Lembremos que educação, em sua raiz etimológica, significa “tirar de dentro”. Ao educar e, dialeticamente, educar-se no mesmo momento, “tirar de dentro” exige de quem educa uma relação de alteridade e transcendência: preciso enquanto educador, primeiramente, colocar-me no lugar daquele que não sabe, para posteriormente conduzí-lo ao saber. Conduzir a transição da ignorância ao saber, é um ato de amor. Ao colocar-me no lugar do outro, reconheço o meu lugar e minha missão.


A dimensão do saber do outro, é reconhecimento da minha dimensão do não saber. Por isso, no ensinar e no aprender, não se trata de competir sobre quem sabe mais ou menos. Quando amo o conhecimento e nele amo o outro, reconheço que o saber é tão diverso, que o que sei não é mais, mas é apenas diferente do aquilo que o outro sabe. E isso não me torna menos ou mais, porque educar pelo/no amor não exige a condição de saber mais ou menos, mas dialogar constantemente sobre aquilo que se sabe.


A dimensão do ser do outro, é reconhecimento da dimensão do meu ser. Ao reconhecer a dimensão da impossibilidade de limitar as potencialidades daquele que educo, e ao educá-lo também me educo, me mostra de que não posso estabelecer condições limitadas para ensinar. Todo ser humano é potencialmente, um sujeito de aprendizagem. Transformar a potência de aprender em aprendizagem, é um ato de amor. Limitar a aprendizagem, bem como definir quais potências transformar em ato, é cercear a liberdade do ser do outro e, na perspectiva da alteridade, minha própria potência de ensinar.


A dimensão do aprender do outro, é reconhecimento da dimensão do amor que tenho ao ensinar. Propondo que, é na incondicionalidade do amor que se realiza a aventura de educar, não posso ensinar sem considerar que o aprender do outro exige amor do meu ato de ensinar. Ato é realização da potência. Muitas das concepções educativas que foram ocorrendo ao logo da história da educação, trataram o processo de ensino e aprendizagem como uma “transmissão” de conhecimento. Transmitir conhecimento, é condição linear. A vida, não é linear; nem tampouco, pudera ser. Quando ensino linearmente, transmito. Não há aprendizagem, mas acúmulo de informações. Quem acumula, não ama, é egoísta. Não se faz uma aventura acumulando coisas. Em algum momento quem acumula terá que decidir do que irá abrir mão para poder prosseguir. Educar na aventura do amor, é abrir mão do egoísmo, do acúmulo, para ao educar, também aprender com o outro.


Assim, na incrível aventura de educar pelo amor, o saber, o ser e o aprender do outro, constituem, entre muitas, algumas possibilidades. Há outras...não há condições ou limites...há possibilidades.

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