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sexta-feira, 16 de junho de 2023

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A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E DA AÇÃO PEDAGÓGICA

Toda ação pedagógica no processo de ensino e aprendizagem é orientado por princípios educativos. O princípio da pesquisa é um desses princípios pelos quais não podemos abrir mão quando a proposta é construir educação através do diálogo vivo entre estudante, professor e conhecimento.

O princípio da pesquisa aparece antes da escola na vida dos estudantes. Ele está presente desde o primeiro momento em que nos interessamos em investigar a nós, nossas relações e ao mundo a nossa volta. Já em tenra idade, somos investigadores, pesquisadores. Essa competência, é despertada inicialmente, pela curiosidade em querer conhecer o nosso próprio corpo. Depois, o mundo ao redor do nosso corpo, mas em pequeno alcance, o mundo das sensações, das cores, dos sons, dos movimentos. Mais tarde, o olhar para o mais distante, com dúvidas mais complexas e de relações mais intensas. Somos assim, curiosos!


Decorrente da tradição escolar, de suas metodologias e princípios, de sua história, há escolas que assassinam a dúvida, limitando o saber ao fazer escolar tão somente. Mas há também aquelas escolas que amplificam a dúvida, ensinam que duvidar é o princípio da aprendizagem e, ao assim ensinar, ensinam a mobilizar a dúvida por meio da pesquisa.

Nos monólogos tradicionais do processo de transmissão de saberes, a dúvida é velada, escondida, reprimida e oprimida. É a condição da transmissão! Transmissão gera obediência, subserviência, opressão. Transmissão não gera autonomia, porque não gera dúvidas. Quando há dúvidas, é necessário a autonomia (auto - por si + nomos- leis).


A dúvida, a pergunta, o questionamento não são inatos no ser humano! São experiências decisivas que vão construindo uma atmosfera preenchida de dúvidas, conceitos, saberes e curiosidades. A escola precisa descobrir que o princípio da pesquisa está em construir saberes a partir da mobilização das competências do projeto de vida dos estudantes. Um projeto de vida repleto de dúvidas, alarga ainda mais a possibilidade de construir conhecimento, pois o aditivo fundamental para o movimento de aprender, está na pergunta, no questionamento, na dúvida. É nas incertezas do Projeto de vida do estudante que o mesmo vai buscando caminhos e descaminhos em direção aos diferentes conflitos que possibilitam aprendizagens.


É importante perceber que esse movimento não começa no Ensino Médio, mas está presente desde cedo na vida do estudante, como por exemplo, nas brincadeiras infantis, onde precisam mas não querem dividir os brinquedos ou criar relações democráticas de espaços.


Assim, é preciso possibilitar a criação de Projetos de Pesquisa voltados para os conteúdos escolares, onde orientados pelo professor, os alunos possam explorar suas dúvidas, objetivos, hipóteses, sua pertinência acadêmica em aprender e impactos sociais do conteúdo, autores e estudos já realizados (como a realização do Estado da Arte), fundamentando e reconhecendo linhas teóricas, construindo caminhos metodológicos para coletar os dados e analisá-los. Ainda, não menos importante, após a análise, construir espaços de socialização desses conhecimentos. Na socialização, permitir o debate e a construção de novas ideias que podem orientar novas pesquisas.

 

Em muitas escolas, a prática da pesquisa faz parte do cotidiano escolar. No entanto, mais que cotidiano, é necessário que seja compreendida como princípio educativo. Os documentos, sejam eles, o Projeto Político Pedagógico ou mesmo, os planos de trabalho precisam contemplar urgentemente essas experiências educativas.


O silenciamento, a falta de perguntas/dúvidas/questionamentos, são sintomas de que a passividade diante do novo pode agravar ainda mais o declínio cultural tão presente em nossa sociedade.

 

“Pesquisa como princípio científico e educativo faz parte de todo processo emancipatório, no qual se constrói o sujeito histórico autossuficiente, crítico e autocrítico, participante e capaz de reagir contra a situação de objeto e de não cultivar o outro como objeto. Pesquisa como diálogo é processo cotidiano integrante do ritmo de vida, produto e motivo de interesses sociais em confronto, base da aprendizagem que não se restrinja a mera reprodução; Na acepção mais simples, pode significar conhecer, saber, informar-se para sobreviver, para enfrentar a vida de modo consciente”. (DEMO, 2006. P.42- 43)

 

(DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12. Ed. São Paulo: Cortez, 2006)

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