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sábado, 27 de março de 2021

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OS DESAFIOS DE CONVIVER NOS ESPAÇOS EDUCATIVOS VIRTUAIS E SUA COMPLEXIDADE

Conviver, sempre foi um desafio dentro dos espaços escolares, considerando que os mesmos apresentam-se como complexos. Desde que a escola foi criada no movimento da Escolástica Cristã, durante a Idade Média, mais em específico no século IX, um dos grandes desafios da convivência escolar, tem sido a dinâmica da convivência voltada para a aprendizagem. 

Desde o primeiro modelo de escola - o catequético/doutrinário - até os dias de hoje, as relações de convivência têm se tornado cada vez mais complexas. 

Tratar da complexidade da convivência nos espaços educativos, em especial na atualidade, quando migrou-se de um espaço presencial para o ambiente virtual, é reconhecer e perceber que as relações fixas em um espaço determinado, passam a existirem agora dentro de uma gama de relações com infinitas possibilidades. 

Diante da tela de um computador, apoiado em um arcabouço de conhecimentos teóricos e metodológicos, bem como vivenciais, o professor é desafiado a instigar, convidar e possibilitar a participação do estudante a qualquer momento. Desta forma, a postura do professor, sua autoridade, não se dá mais por uma relação verticalizada de poder, mas por uma nova relação horizontal de saber. De fato, de um ano para cá, vamos colocando nossos saberes em diferentes lugares e em diferentes experiências educativas.

O saber puramente transmitido, mesmo que tenha seu encantamento em sua abordagem conceitual, não se torna interessante se não partir de uma metodologia de construção vivêncial. Para construir o conhecimento, o professor precisa se apropriar de muitas leituras, análises, reflexões e trocas, bem como o pensamento crítico. O encontro com os seus pares possibilita novas vozes, novos entendimentos, perguntas, crises e construções. Portanto, ser professor nesses tempos, é aprender a aprender, e aprendendo a aprender com seus alunos e pares, aprendemos também a ser. 

Do outro lado da tela do computador, do tablet ou do celular, está o estudante, inserido em uma condição única, de existência, sentido e de contexto. Em casa, no local de trabalho dos pais, acompanhado ou não, lá está ele, com sede e fome de aprender. Algumas vezes, ele se encontra no conforto e na acomodação; outras vezes, incomodado pela necessidade de autonomia diante daquilo que é só seu: a aprendizagem. 

Algumas perguntas nos fazem refletir sobre a complexidade dessas relações entre professor e aluno no ambiente virtual: A relação como vai? Como estão teus sentimentos ao ensinar e ao aprender? Como está a sua disposição em querer mudar? O que é prioridade para você neste momento? 

Estamos construindo um novo tempo. Por isso, estamos em crise. A crise é o primeiro movimento de construção de um novo paradigma, de uma nova escola, de um novo jeito de ensinar e aprender. Crise se supera com diálogo. Diálogo produz consenso, aprendizagens e entendimento. O novo paradigma educativo escolar será construído a partir da abertura para o diálogo, reconhecendo que o mesmo se dá no entendimento da complexidade da convivência entre aqueles que se propõem a ensinar e, os que estão dispostos a aprender. 

Precisamos convergir para esse desafio. A mudança nos impõe mudar. Mudar não é fácil, é desafio. Mudar é desacomodar-se, descentralizar-se, abrir mão de certezas, verdades, ou até mesmo de posturas autoritárias que garantiam o sucesso do ensinar, mas que nem sempre construiam o sucesso de aprender. 

Te convido a refletir a partir do vídeo “Quem mexeu no meu queijo”.

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sábado, 20 de março de 2021

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PRECISAMOS QUALIFICAR O ENSINO VIRTUAL!

Durante a Idade Média, em especial, no Século IX, estavam sendo construídas as primeiras escolas catequéticas em toda a Europa. Essas escolas foram construídas em um contexto de expansão das verdades inquestionáveis - a doutrina da Igreja Cristã. O objetivo dessas escolas, estava voltado para a doutrinação disciplinar e moral daqueles que podiam frequentá-la. Naquele tempo, as escolas catequéticas eram o único lugar em que se podia ter acesso, mesmo que de forma restrita, à cultura clássica e toda sua literatura.  

No interior dessas escolas, haviam sistemas disciplinares que não permitiam comportamentos de troca em encontros, diálogos, discussões, entretenimento, entre outros. A regra e o método pedagógico eram claros: o silêncio. Além disso, o professor desenvolvia um controle moral sobre seu aluno. Como já dito, o controle dos corpos e da mente tinha um propósito: a obediência disciplinar diante das verdades inquestionáveis da Igreja. 

Nesse modelo, em auditórios, os estudantes eram colocados em fila, uns atrás dos outros, não permitindo com isso a comunicação e a troca de ideias. A aprendizagem era algo solitário, agonizante. Os conteúdos ensinados, além de decorados e fragmentados, em nada articulavam-se com o cotidiano da vida, ou mesmo os sonhos que o estudante tinha. 

Muito desse modelo escolar ficou presente em nossa tradição. Ainda hoje, em boa parte das escolas, encontramos resquícios dessa cultura disciplinar. Por mais que a escola tenha passado por aberturas resultantes de conflitos sociais, e muito da contribuição arguida pela luta de alguns educadores, a escola de hoje, ainda reclama, em boa parte, o retorno à dinâmica escolástica. 

Sabemos, porém, que vivemos inseridos em um paradigma social onde as relações se dão de modo intersubjetivo, através de construções coletivas de saberes, seja por meio de grupos presenciais ou virtuais. Não se pode, de modo algum, julgar ou afirmar que um é melhor que o outro. Cada qual tem sua dinâmica, propósitos e contribuições.

No entanto, acompanhando os dados das pesquisas realizadas em diferentes lugares do Brasil,  sobre as configurações que a sociedade vem tomando ( antes, durante, e quiçá, pós pandemia) vemos aumentando cada vez mais as possibilidades de ensino virtual. Esse aumento da procura tem gerado por parte de educadores, bem como empresas tecnológicas, um encantamento/fetiche pela racionalidade técnica que há na operacionalização de aplicativos como metodologia. Diria que esse encantamento não passa de uma transposição do tradicional presencial para o tradicional virtual.

Qualificar o ensino virtual significa, porém, superar a racionalidade técnica presente em todo o aparato instrumental. Junto com isso, superar também o fetiche e encantamento pela máquina e suas potencialidades e, no lugar dela, construir de forma coletiva, colaborativa e cooperativa um novo modelo de racionalidade: a humana.  

Nessa racionalidade, não é a máquina que está no centro, mas o próprio ser humano. O ponto alto da educação não é a conexão virtual das máquinas, mas através da conexão virtual, ampliar o compromisso com o ensinar e aprender a partir do real material, suas contradições e potencialidades. Não basta transmitir informações, mas sim, formar cidadãos que possam orientar suas ações em  direção a mobilizar os sujeitos que ensinam e aprendem ao mesmo tempo. Mais que pensar como chegar ao outro, precisamos senti-lo em presença viva, sem distanciamentos, mas sim, acolhidas. 

Para finalizar, qualificar o ensino virtual é a grande oportunidade que temos no momento que fazemos uma mudança tão necessária e esperada por tantos os educadores, durante muito tempo. É o anseio guardado de uma nova geração de estudantes. É a oportunidade de nos aproximarmos mais. Assim, qualificar significa melhorar a condição humana do ensino virtual. 

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sábado, 13 de março de 2021

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RESILIÊNCIA, SIM! MAS COM O OUTRO!



 Cada tempo carrega consigo algumas palavras que acabam se tornando espécies de “filosofias de vida”. Em nosso tempo, um tempo marcado por muitas adversidades, a palavra resiliência é pronunciada várias vezes ao dia pela boca de diferentes profissionais, em diferentes lugares do mundo.
 
Ser resiliente é ter a capacidade de adaptar-se às situações que são efetivamente difíceis de lidar. Ela significa voltar atrás, ou seja, não endurecer diante de uma situação que exige maleabilidade e flexibilidade. Ser resiliente, é também ter uma atitude otimista diante da vida, mesmo que em determnada situação isto lhe pareça impossível.

Percebendo este significado, lembro da Filosofia Helenística. Essa filosofia, localizada no final da idade antiga, era resultado de um cruzamento cultural que ocorreu entre o ocidente - racionalizado - e o oriente - mistificadoDesse cruzamento, nasceram diferentes filosofias de vida que orientavam ao modo de vida da sociedade da época, ainda que esta estivesse emergida em uma profunda crise moralEssa cultura sugeria a apatia, a afasia, e a ataraxia. 

Na filosofia helenística, diziam de que quanto menos preocupações o homem tivesse com a sociedade, tanto mais feliz este seria. Os pensadores deste tempo sugeriam como forma de ser feliz, o abandono das questões coletivas como a política, pobreza, sociedade, para aqui no lugar delas, fortalecer o espírito individual. De outra forma, isto significa cuidar mais de si, adaptando-se às condições de seu tempo, evitando qualquer conflito mesmo que teórico, e vivendo uma vida extremamente meditativa.

Sabemos, porém, que ser resiliente está além de uma vida individualista. É preciso reconhecer que o sentido da vida está no encontro com o outro, um encontro que produz aprendizagens, alegia. Essas aprendizagens alí constituídas, são a marca que os encontros deixam em nossa vida. Retornar de um encontro sem nada ter mudado, é como querer a mudança e não estar aberto a ela.  

Nesse sentido, precisamos resignificar a resiliência humana. Dar à ela um novo sentido, um entendimento que amplie o encontro de si com o outro. Entender a resiliência a partir de uma condição individual faz com que o sujeito abandone a grande oportunidade da sua vida: a convivência com o outro. Isso não significa que, diante do outro preciso estar em plenas condições de meu reconhecimento individual. Na relação com o outro, posso estar fragilizado por uma situação de perda, dor, ausência, entre outras e, brota espontaneamente a acolhida.

Sendo educador, percebo que a abertura para a condição humana do sujeito é uma grande oportunidade do encontro educativo. Não nos encontramos para nos mostrar-nos uns aos outros, o quanto somos adaptáveis, pessoas de sucesso, carregadas de auto estima, ou mesmo prestigiada por outras. Nos encontramos pela necessidade de trocarmos o essencial que há em nós: a nossa humanidade. 

Nesse sentido, e para finalizar, te convido a refletir sobre as possibilidades do encontro educativo, quando busca ser resiliente com o outro. Ainda que a adaptação às condições seja fator importante, assim como foi para os filósofos helenísticos, resta dizer de que a transformação das mesmas condições, conduz o sujeito à um contexto de Felicidade. 

Por fim, resiliente, sim! Mas em constantes encontros educativos com o outro!
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sábado, 6 de março de 2021

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RESPEITAR O CONTRATO SOCIAL E GARANTIR A VIDA!

 


Viver em sociedade sempre foi um desafio para o ser humano. A sociedade é uma invenção humana. Antes de sua existência, havia um estágio que é caracterizado como natural. Neste estágio, a condição do ser humano estava limitada ao uso da força e da vontade de fazer tudo o que desejasse, não importando as consequênicas. Não havia empecilhos éticos ou morais, e o único limite era a lei do mais forte. Agir com liberdade, era pois, fazer tudo o que lhe desse vontade, mesmo que isso o conduzisse ao seu extermínio.  

Nesse estágio, anterior a existência da sociedade, o homem comportava-se de acordo com aquilo que ele mesmo julgava certo ou errado, ou seja, instintivamente. Não havia entre os homens qualquer tipo de consenso, determinação ou qualquer imposição de obrigação. Não havia, porém, qualquer tipo de acordo que estabelecesse os limites da liberdade ou, orientasse o homem para viver em sociedade. 

Como não havia acordos, não existiam contratos sociais, nem mesmo havia necessidade da existência do Estado. Dessa forma, garantias sobre a propriedade, a vida, e a sua continuidade, não existiam, exceto pela sua própria vontade se assim fosse desejada.

Com a criação dá propriedade privada e dentro dela os grupos sociais, sentiu-se necessidade de estabelecer os limites da convivência de cada um. O outro homem passou a ser ameaça. Entendeu-se que, quando cada um faz o que quer, não se chega ao que todos desejam, colocando assim, a convivência harmoniosa em risco. Dessa forma, o Estado assegura o cumprimento de acordos sociais, eliminando os riscos sobre a vida do outro.  

Além do estabelecimento do contrato social, com a intenção de regular a convivência entre os homens, foi necessário criar um ente mais forte do que um e de que todos juntos: o Estado. A criação do Estado não representou a regulação da convivência social, mas a garantia sobre os direitos naturais que todos temos desde o momento do nosso nascimento: a vida, a liberdade, a dignidade, e a propriedade. 

Assim, compreende-se que para viver em sociedade é minimamente necessário respeitar o contrato social que é estabelecido com a função primeira da continuidade da vida. somente através de uma convivência harmônica, regulada pelo contrato social e assegurada pelo Estado, é que a sociedade pode continuar existindo. 

O que está por trás da organização da sociedade, são as formas de convivência humana. Doravante, é a ética - princípio universal que orienta as condutas individuais - que possibilita a melhor ação. 

Em nosso tempo, no contexto em que estamos inseridos, não é possível uma sociedade existir de forma sadia, duradoura e harmoniosa, sem o mínimo de respeito e cumprimento ao contrato social e ao que estabelece o Estado. Por mais duras as sanções e penalidades que o Estado venha a impor à convivência social, nada se resolve se o comportamento humano não convergir para o cumprimento do contrato social. Lembro, porém, que abrir mão do contrato social é regressar a um estágio de natureza onde retorna o caos, o medo, e a tragédia. 

Por fim, através do cumprimento do contrato social e, de tudo o que ele dita, ganhamos a liberdade civil, moral e ética, nos tornando os senhores de nós mesmos. Resistir a condição humana, negando o contrato social, é o impulso em direção ao extermínio e a escravidão humanas.

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