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sábado, 29 de maio de 2021

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HUMANIZAR-SE OU COISIFICAR-SE?

Ninguém nasce social, torna-se. Tornar-se social é um processo que envolve diferentes variáveis, que unidas, podem serem traduzidas à uma: Cultura. É a cultura que transforma o animal em homem. Ser humano é uma condição social que se constrói através de processos educativos. A Educação é o elemento central na transformação do animal em homem. 

Vários filósofos já discutiam se a disposição do homem em tornar-se homem era dada por natureza, por Deus, ou mesmo construída a partir da vida social. Aristóteles, por exemplo, afirmava que o homem nasce com o desejo de aprender, e essa é uma condição natural da existência. Para ele, o homem é movido pelo desejo de agregar-se ao outro, constituindo assim, a humanidade e a sociedade. Já Santo Agostinho, na Idade Média, acreditava que a disposição do homem à vida social era dada por Deus no ato da criação. Segundo ele, Deus - sendo o criador - teria posto no homem - sendo criatura - a disposição à vida em sociedade. Por fim, John Locke, filósofo inglês do Século XVII, afirmou através de sua Teoria da Tábula Rasa, que a mente humana é como uma “folha em branco”, ou seja, não há nenhuma pré-disposição inata quanto à vida em sociedade. Resta assim, para Locke, a construção de um sujeito social a partir de suas experiências culturais.

Entre tanto debates, encontramos também Karl Marx, filósofo, clássico da Sociologia, que afirma que ao transformar a natureza, o homem também transforma-se à si. Em outras palavras, para Marx, é na história e no movimento de pensar, fazer e transformar o mundo material, percebendo as suas contradições, que o homem se constrói enquanto sujeito. A transformação do meio, no pensamento de Marx, exige a humanização do mundo, não o seu contrário. Como dito, o contrário da humanização do mundo, é a materialização e objetificação do homem, o que o transforma em coisa.

Cabe aqui, portanto, refletir se a condição cultural do homem em nosso tempo configura um processo de humanização ou coisificação, dada não apenas o entendimento de uma inclinação natural para a sociedade, mas a intenção consciente em transformá-la. Coisificar-se, é alienar-se. Alienar-se, é a condição da separação do homem da sua própria condição. Educar-se, é culturalmente transformar-se em humano, capaz de construir, mesmo em meio as contradições de nosso tempo, uma condição sempre aberta de aprendizagem. Nesse sentido, sempre é tempo de humanizar-se.

Por fim, aceitar ou refutar a condição educativa de humanização, é um ato de liberdade. Ao passo que vamos nos separando da condição instintiva do animal, vamos vivendo os dilemas do livre-arbítrio. Entre os dilemas, encontramos a condição moral - do certo e errado (constituída pela vida em sociedade) - e a ética - do bem e do mal (constituída pelo indivíduo, diante da reflexão sobre a moral). Portanto, tornar-se humano é um ato social, educativo, moral e ético, mas acima de tudo, uma condição de liberdade.

Reflita, livremente!

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sexta-feira, 21 de maio de 2021

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PEDAGOGIA PARA A TRANSFORMAÇÃO!



Quem sabe a primeira constatação que fazemos quando discutimos educação com alguém, é sobre a sua concepção educativa. Em Educação há diferentes concepções educativas. É importante conhecê-las e mesmo diferenciá-las, uma vez que a ação do professor, coordenador e/ou diretor, bem como de outras lideranças em educação como secretários (as) de Educação no Municípios, ou até mesmo Ministros da Educação, serão orientadas por elas.

Proponho pensar uma concepção educativa voltada para a transformação, uma Pedagogia para a Transformação.

Uma concepção educativa pautada em uma Pedagogia para a Transformação, implica pensar e atuar de modo científico, compreendendo a educação como um processo de construção social, uma vez que seus métodos de ensino, aprendizagem e avaliação, bem como seus objetivos, está voltados para uma determinada realidade e um momento histórico concreto. E é aqui que as coisas começam a fazer sentido: Ciência e Sociedade não são ou estão fragmentadas, mas fazem parte de um lugar de pura complexidade chamado de realidade.

Assim, a partir do momento em que a ciência dialoga com a realidade, temos a dialética. A dialética em educação é sempre um movimento de transformação da realidade, pautada na abertura que a ciência e o conhecimento têm em oferecer aos sujeitos possibilidades de se emanciparem e transformarem.

No entanto, sugiro algumas reflexões e/ou princípios fundamentais para alcançar o movimento dialético através de uma Pedagogia para a Transformação:

1.Estabelecer uma íntima relação entre a Teoria e a Prática: Conhecer a realidade, refletindo teoricamente sobre a mesma. A reflexão teórica é o alimento para a ação de transformação da prática.

2.O único movimento absoluto em educação são as trocas: Nada é definitivo em educação, exceto o movimento de pensar e de trocar saberes.

3.Tudo que está, está em relação: Nada existe isolado. Há uma gama de motivações, atitudes e necessidades.

4.Aprendizagem Democrática só acontece quando o Ensino também é democrático:Por isso lembre-se: “comportamento democrático gera comportamento democrático.

5.Não há como separar o teórico do prático. É a práxis. Refletir sobre a ação, é buscar novas motivações para agir.

6.Professor e aluno, aprendem juntos quando interagem.

7.O Enganjamento Educativo é formado pela ação do indivíduo e da comunidade. Por isso, não se pode educar sem contar com uma comunidade educativa de responsabilidades coletivas.

8.Para resolver os problemas, é preciso muito estudo.

9.Toda causa, tem um efeito. Aja positivamente e o efeito será coerente com sua ação.

10.A vida está em contradição permanente.

Assim, a Pedagogia para a Transformação existe atividade, movimento. Sem isso, a escola não consegue contribuir para a formação da sociedade. Quando a escola segue fazendo o mesmo, mantém o sistema. No entanto, compreender a transformação social por meio de uma pedagogia, implica em reconhecer que, a mudança que ocorre na educação, também ocorre na sociedade.

Termino com um pensamento de José Saramago: “A morte definitiva é o esquecimento. O que é esquecido morre. O que não é levado em consideração, deixa de existir, embora aparentemente vivo." - Assim, te desejo muitas transformações!

 

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sábado, 15 de maio de 2021

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A MUDANÇA DE VALORES!

Você já parou para pensar que os valores humanos, aqueles que orientam o agir dos indivíduos, mudam de acordo com as mudanças sociais? Já percebeu que o reclame por valores que em outros tempos eram considerados importantes, pode ser reflexo da ausência da percepção das mudanças que ocorrem à todo momento em nossa vida? Ou ainda, por que afirmamos alguns valores como essenciais e outros não? Quais são os valores que, de fato, são fundamentais na orientação do agir humano? Se essas perguntas fazem parte do repertório de seus questionamentos, você está refletindo sobre a Filosofia de Nietzsche.

Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, dizia de que as pessoas que filosofam em direção aos valores orientados para a vida prática, com um olhar atento e crítico à finalidade dos mesmos, são pessoas de espírito livre e elevado. São pessoas fracas, segundo o filósofo, àquelas que aceitam as normas, leis e a moral, sem antes ao menos questioná-las.

Usando os tramas da “Tragédia Grega”, em especial, os deuses da Mitologia Grega, Apolo e Dionísio, Nietzsche dizia que o essencial na vida é o perfeito equilíbrio entre o caráter da ordem e do cáos. Segundo os gregos, o deus Apolo representa a ordem, a razão humana. Já o deus Dionísio, o cáos, a desordem, a natureza humana. Se vivermos unicamente de acordo com nossa razão, seremos escravos dóceis das normas, leis. De outro lado, se vivermos somente apoiando nossa vida sobre o cáos, a desordem, a sociedade chegará à sua ruína. Então, o perfeito equilíbrio entre a razão (ordem) e a natureza humana (caos), deve ser a moral do homem livre.

Para superar a moral dos fracos, chamada por Nietzsche como “moral de escravos, ou seja, a submissão total ao espírito de ordem, é necessário a transvaloração dos valores. É preciso que a atual humanidade dê lugar ao novo ser humano, a alguém além do próprio ser humano na condição de escravo. É preciso que a impotência, a fraqueza e o valores ressentidos, sejam substituídos por novos valores que livrem o ser humano de seu dever moral como submissão, e acentuem a própria vontade do querer livremente.

Mas quais são as consequências para os indivíduos? De fato, haverá aqueles que entenderam que a transvaloração acima descrita é prejudicial ao gênero humano, pois dela decorre a mudança. São pessoas que estão submissas à uma moral conservadora, positivista, opressora. Alguém dirá que “em time que está ganhando, não se mexe”. É importante observar que, mesmo que sua decisão seja “não mexer no time”, o jogo muda e, a mudança de contexto, exige novas estratégias, planejamentos, pensamentos, ações, e tudo isso implica mudança de “time”.

Há valores universais, e por isso são válidos em todo tempo e lugar. No entanto, esses balizam os outros valores, que não deixam de serem opções. 

Assim, diante da mudança de valores, temos as consequências éticas. Fica a pergunta: Se soubéssemos que, o que os outros fizeram, está destinado à se repetir muitas vezes, faríamos o que estamos dispostos à fazer? Boas reflexões!

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sábado, 8 de maio de 2021

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QUAL É A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO?

“Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade, o da Educação”. O sentido da frase acima descrita, retirada do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932, ainda é atual. Diante do cenário de um país assolado por diferentes mazelas, que vão desde a corrupção política, as crises econômicas, as incertezas de sua gestão, a pobreza e a fome, estão as questões sitiadas no campo da Educação.

Um país que atribuiu à escolarização o sentido central da educação, perde aos poucos, de forma sobresaliente, a intenção e a validade daquilo ao qual se refere a própria Constituição Federal, em seu Artigo 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”.

É importante ressaltar que o “direito de todos”, também é “dever de toda sociedade”. Não pode, nesse sentido, a sociedade brasileira ficar alheia ao seu compromisso com as novas gerações e seu aprendizado cultural. Além do desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, a educação também contribui para o desenvolvimento das forças econômicas. Isso ocorre quando alia-se o saber qualificado em sua integralidade, ao reconhecimento da pessoa humana como um ser cultural.

Junto à isso, contribui também a educação ao desenvolvimento da inovação como aptidão fundamental ao desenvolvimento humano e social. Não investir na atualização da escola e na cultura geral de um povo, faz com que, em primeiro lugar, a escola seja entendida como um lugar ultrapassado de conhecimento e, em segundo, a sociedade agoniza em suas soluções de criatividade em todos os sentidos.

Assim, ao situar a importância da educação como fundamental à sobrevivência de uma sociedade, confirma-se a hipótese de que ela é chave fundamental para abrir as portas da melhoria em todos os outros campos sociais. Assim, a questão da educação não pode ficar restrita à escola, aos professores, diretores, enfim...Precisa alargar-se, seja na dimensão dos espaços e iniciativas educativas, bem como, em seu sentido mais íntimo.

A Educação não pode ser apenas projeto de Escola, até mesmo porque a vida do estudante à ela não se restringe. Educação é uma abordagem que abarca a complexidade das dimensões do ser humano, bem como seus espaços de interelação com o mundo, a natureza e o outro. 

Diante disso, está mais do que na hora de os administradores públicos ampliarem sua compreensão de Educação. Não apenas ampliar os recursos, o que também é indispensável, mas suas concepções educativas. O desafio é abrir mão de concepções antiquadas ao tempo e inaceitáveis quanto a direção à ser tomada. Gestão Pública de Educação, é muito mais que manutenção ou reprodução, é também, transformação!

Por fim, o argumento da transformação não é coerente se não sair do discurso. É preciso que, ao passo que a educação transforma a sociedade, também se transforma. Ao passo que o trabalho educativo transforma a natureza da sociedade, também transforme seus gestores, professores, crianças, famílias. Está mais do que na hora de elegermos um projeto educativo transformador. Para isso, é preciso, antes de tudo, que cada um possa responder a pergunta: Qual é a importância da Educação? Belas reflexões! 

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sábado, 1 de maio de 2021

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O TRABALHO, A CULTURA E A CONDIÇÃO DO EDUCADOR!


Hoje comemoramos o Dia do Trabalhador. Já ouvi alguém homenageando o Dia do Trabalho. De fato, há uma relação intrínseca entre o trabalho e o trabalhador. Te convido à refletir sobre.

Desde os tempos mais remotos, o homem trabalha. Trabalhar, faz parte da condição humana. O tornar-se homem, passa necessariamente por uma relação de trabalho: a transformação da natureza em cultura. Quando o homem transforma a natureza através do trabalho, também transforma à si, a sua própria natureza. As primeiras formas de trabalho estavam inseridas na relação homem natureza.

Depois, já com a formação da sociedade, o trabalho insere-se em uma dinâmica orgânica: um produz o que o outro precisar. O trabalho passa a ser visto como necessário ao desenvolvimento da sociedade. Com isso, ao se tornar produtivo socialmente, o trabalho passa a ser explorado. Perde, em parte sua dinâmica humana-emancipatória; deixa de ser produtor de cultura, para ser produto da relação de exploração de homens sobre homens.

Verifique, porém, que a palavra “trabalho” em sua origem etimológica, deriva do latim tripalium - instrumento de tortura feito de três paus (tri - três, palium - paus). É conhecida a frase que diz: “o trabalho dignifica o homem”. De fato, na concepção de trabalho como fazer cultural humano - que transforma o homem bruto em humano - o trabalho dignifica. Já na concepção do tripalium, não há uma relação de dignidade, muito pelo contrário, há a sua perda.

No contexto do trabalho do educador, recuperar a condição do trabalho como construção de cultura, é resgatar o papel social do professor, sua condição e reconhecimento, bem como, entendê-lo a partir de sua essência: a transformação de pessoas pelo viés do conhecimento (cultura).

No entanto, tenho a sensação de que, em nossos tempos, esse não é o olhar - com raras excessões - que a sociedade como um todo, têm sobre a condição do educador. Felizmente, sabemos disso. Felizmente, estudamos essa problemática. Mas, infelizmente, pouco fazemos para transformar essa realidade. Transformar essa realidade, implica necessariamente, em transformar o trabalho em cultura. Interessante observar que nosso trabalho como educadores transforma vida, emancipa condições, eleva a condição cultural, favorece o exercício da liberdade, dignifica o outro. No entanto, tão pouco o mesmo trabalho que engrandece o outro, enobrece a nossa condição. 

Não há, como já dito, condição mais essencial para o ser humano do que a sua cultura. É ela que orienta a ação das pessoas em sociedade, seja na saúde, na política, economia, ou mesmo, no próprio trabalho. A cultura, construída e sempre em processo de construção através da educação, é libertadora ou opressora. É a cultura que ajuda um povo a resolver seus problemas, apontando soluções criativas, desenvolvendo tecnologia, saberes, preservação ambiental, entre outros. E, por fim, a cultura é construída em boa parte, pelo trabalho do educador.

No entanto, valorizar o trabalho do educador, é valorizar o próprio educador. Uma sociedade não se emancipa, não melhora, se o trabalho do educador também não for emancipatório. E isso, só se faz em condições de emancipação e valorização e da dignidade do trabalhador em educação.

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