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domingo, 15 de março de 2015

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O PAPEL SOCIAL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO POLÍTICA

 

montesqieuVivemos em um momento de profundas transformações. É tempo de repensar os paradigmas educacionais aos quais estamos

inseridos. Temos um caminho a trilhar, e o futuro do mesmo depende exclusivamente do direcionamento que estamos dando ao processo educacional.

Na identidade cultural, a educação em seus processos históricos hegemônicos passou por profundas transformações. Segundo Gadotti (1988) é necessário que hoje o professor assuma um papel além de profissional, também humano, social, político, tomando partido sem omissão, mas sim se definindo por si de que lado está, pois nas palavras de Paulo Freire, ou você está a favor dos oprimidos, ou está contra eles. Nesse sentido, percebemos que o papel da educação aqui apresentado, àquele que exige um posicionamento do educador serve como instrumento de luta, que supere o senso comum levando a todo cidadão o papel de investigador, conhecedor para transformar as meras opiniões em senso crítico.

Espera-se do professor, possuidor do caráter de transformação e conhecedor de seus instrumentos que seja um organizador e conscientizador das classes para construir uma sociedade mais democrática, não aquela que brote espontaneamente, mas surja a partir dos pressupostos educacionais que assumem acima de tudo aqui um papel político.

Para que essa práxis social da educação possa acontecer, os professores e professoras devem ser conhecedores das realidades sociais de seus alunos e possam estar engajados no processo de transformação das estruturas opressivas da sociedade em que atuam e vivem.

Nas palavras de Gadotti "precisam reconhecer de que o saber traz consigo sua própria superação", ou seja, nunca estamos emersos em uma política ou entendimento político que não possa ser superado ou mesmo, que esteja emerso em um processo de transformação. Portanto, não pode-se afirmar um saber fixo, ou uma relativização da ignorância das massas, pelo contrário, se auto perceber-se como sujeitos passíveis de mudança os torna melhores e mais conhecedores de sua posição humildemente assumida, e que possam comunicar esse saber aos outros.

Não será possível uma transformação social se os educadores não acreditarem profundamente na educação. E quando se fala em educação, estamos querendo fazer uma aproximação do possível com o realizável. O possível é visto como o agora - àquele que está sendo realizado, e o realizável - como aquele possível de amanhã, que está ainda por vir, mas será o desenvolvimento teórico e prático do amanhã social.

Edgar Morin nos lembra de que o possível pode se tornar impossível. No processo dialético histórico da educação temos várias experiências de possibilidades educacionais humanas frustradas pela incoerência do próprio sistema educacional. Morin trabalha na possibilidade da realização do improvável como o inesperado e o inseguro, mas que por vias de dúvidas são o alcançável e o realizável.

Se olharmos para o processo histórico de desenvolvimento da legislação e formulação de diretrizes educacionais que visam a formação do professor, veremos que a grande maioria dos cursos de formação pedagógicos foram regulamentados em meados de 1969, período em que o Brasil enfrenta a Ditadura Militar como regime de governo (Gadotti). Temos nesse período que pensar um professor apolítico, educador passivo, técnico sem preocupações sóciopolíticas, sem falar em uma ação desintegrada da realidade que estava inserido.

Olhar para a formação de professores e esperar destes a capacidade da compreensão política, é averiguar não as possibilidades de quando ele ingressa no curso de formação, mas desde o primeiro dia que este entra na escola (Sany Rosa). Os profissionais da educação carregam toda a sua bagagem escolar vivificada nos processos de significação de aprendizagens que são influenciadas pela sua vivência escolar, muito menos influenciados pelas teorias da possível formação recebida daqui pela frente.

Como resultado da formação de professores, reprodutores da ética ditatorial, é necessário que os mesmos reflitam sob condição do momento histórico em que foram trabalhadas suas ideologias e o momento histórico atual que exige uma constante reflexão do processo globalizante das classes, principalmente no que concerne ao educar.

Gadotti vai mais além, diz que é preciso que o educador consciente de sua tarefa seja desrespeitoso para questionar a realidade que se apresenta, para poder ser agente de transformação e mudança social.

O desrespeito para Gadotti soa o "questionar" e, nas palavras de Paulo Freire, a educação não é neutra, dizendo que mesmo em uma cultura educacional em que se prive pelo silêncio, não pode-se deixar de levar em consideração de que há as inquietações e angústias que estão todas em um provir nos âmbitos sociais e escolares.

O papel essencial do professor político seria o de problematizar a educação. Só que isso é tarefa que incomoda que evidencia o conflito, a crise. Muitos preferem a acomodação que o conflito dialético.

Aqui podemos questionar: até que ponto estamos dispostos a problematizar e tornar esse processo dialético a práxis de nossa ação pedagógica? A pergunta que urge sem necessidade de ser respondida, mas de ser refletida é: Por que nossos professores continuam se calando diante das injustiças sociais? Trabalham para quem? A favor de quem? Estabelecem uma relação dialógica com o saber, em contraponto continuam reproduzindo a lógica excludente no interior das escolas, através de seleções, estímulo à individualidade e a competitividade?

Gadotti pensa que o sistema educacional sempre vai enfrentar essa crise ideológica, o plano estrutural de uma educação reprodutora do sistema e um transformadora do sistema. É preciso que o educador posicione-se perante esta problemática.

Sendo assim, o papel dos profissionais da educação necessita ser repensado. Não podem agir de forma neutra, mas sim estar presentes nessa sociedade de conflitos que permeiam o campo social recheado de problemas e conflitos, principalmente de inculcação ideológica de crenças e opiniões formadas que se pré-estabelecem no interior das escolas por força do poder alienante.

Existem também aqueles que são pessimistas quanto ao papel das transformações sociais, afirmando que a Educação é um processo de mudança, mas que esta deva mudar somente e quando o sistema mudar; parecem identificar o processo educacional fora da realidade social política ao qual estão inseridos, e sem perceber tornam-se reprodutores das ideologias e falácias determinantes sociais.

O papel social do professor assim, resume-se na capacidade que este tem de identificar os problemas e conflitos, almejando um novo espaço onde os sujeitos tenham voz e vez, identificando em cada pessoa um novo instrumento de possibilidades de aprendizagem, seja ela prática ou teórica, reforçando as identidades culturais contribuindo para um processo de libertação e problematização do saber e do conhecimento.

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