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sábado, 20 de março de 2021

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PRECISAMOS QUALIFICAR O ENSINO VIRTUAL!

Durante a Idade Média, em especial, no Século IX, estavam sendo construídas as primeiras escolas catequéticas em toda a Europa. Essas escolas foram construídas em um contexto de expansão das verdades inquestionáveis - a doutrina da Igreja Cristã. O objetivo dessas escolas, estava voltado para a doutrinação disciplinar e moral daqueles que podiam frequentá-la. Naquele tempo, as escolas catequéticas eram o único lugar em que se podia ter acesso, mesmo que de forma restrita, à cultura clássica e toda sua literatura.  

No interior dessas escolas, haviam sistemas disciplinares que não permitiam comportamentos de troca em encontros, diálogos, discussões, entretenimento, entre outros. A regra e o método pedagógico eram claros: o silêncio. Além disso, o professor desenvolvia um controle moral sobre seu aluno. Como já dito, o controle dos corpos e da mente tinha um propósito: a obediência disciplinar diante das verdades inquestionáveis da Igreja. 

Nesse modelo, em auditórios, os estudantes eram colocados em fila, uns atrás dos outros, não permitindo com isso a comunicação e a troca de ideias. A aprendizagem era algo solitário, agonizante. Os conteúdos ensinados, além de decorados e fragmentados, em nada articulavam-se com o cotidiano da vida, ou mesmo os sonhos que o estudante tinha. 

Muito desse modelo escolar ficou presente em nossa tradição. Ainda hoje, em boa parte das escolas, encontramos resquícios dessa cultura disciplinar. Por mais que a escola tenha passado por aberturas resultantes de conflitos sociais, e muito da contribuição arguida pela luta de alguns educadores, a escola de hoje, ainda reclama, em boa parte, o retorno à dinâmica escolástica. 

Sabemos, porém, que vivemos inseridos em um paradigma social onde as relações se dão de modo intersubjetivo, através de construções coletivas de saberes, seja por meio de grupos presenciais ou virtuais. Não se pode, de modo algum, julgar ou afirmar que um é melhor que o outro. Cada qual tem sua dinâmica, propósitos e contribuições.

No entanto, acompanhando os dados das pesquisas realizadas em diferentes lugares do Brasil,  sobre as configurações que a sociedade vem tomando ( antes, durante, e quiçá, pós pandemia) vemos aumentando cada vez mais as possibilidades de ensino virtual. Esse aumento da procura tem gerado por parte de educadores, bem como empresas tecnológicas, um encantamento/fetiche pela racionalidade técnica que há na operacionalização de aplicativos como metodologia. Diria que esse encantamento não passa de uma transposição do tradicional presencial para o tradicional virtual.

Qualificar o ensino virtual significa, porém, superar a racionalidade técnica presente em todo o aparato instrumental. Junto com isso, superar também o fetiche e encantamento pela máquina e suas potencialidades e, no lugar dela, construir de forma coletiva, colaborativa e cooperativa um novo modelo de racionalidade: a humana.  

Nessa racionalidade, não é a máquina que está no centro, mas o próprio ser humano. O ponto alto da educação não é a conexão virtual das máquinas, mas através da conexão virtual, ampliar o compromisso com o ensinar e aprender a partir do real material, suas contradições e potencialidades. Não basta transmitir informações, mas sim, formar cidadãos que possam orientar suas ações em  direção a mobilizar os sujeitos que ensinam e aprendem ao mesmo tempo. Mais que pensar como chegar ao outro, precisamos senti-lo em presença viva, sem distanciamentos, mas sim, acolhidas. 

Para finalizar, qualificar o ensino virtual é a grande oportunidade que temos no momento que fazemos uma mudança tão necessária e esperada por tantos os educadores, durante muito tempo. É o anseio guardado de uma nova geração de estudantes. É a oportunidade de nos aproximarmos mais. Assim, qualificar significa melhorar a condição humana do ensino virtual. 

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