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sábado, 19 de setembro de 2020

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DA FILOSOFIA DE NIETZSCHE AO RETORNO ESCOLAR PRESENCIAL




Já se passaram mais de seis meses de distanciamento social em virtude da COVID-19. Muitas coisas foram inventadas, renovadas, outras até abandonadas. O sentido da vida, como liberdade, felicidade foram limitados. O limite não significa diminuidos, mas condicionados ao isolamento, restritos, finitos. Aos poucos, os limites impostos à convivência foram se tornando suportáveis. Somente se tornaram suportáveis, pois entendemos que a nossa condição humana é frágil.

Na Filosofia de Nietzsche, filósofo alemão do Século XIX, encontramos esta reflexão. Diante das características dessa vida, a partir de um olhar pessimista como a condenação do homem à finitude, à falta de sentido, inventou-se a paz, o sossego e a segurança. Sob esse prisma, nos sentimos seguros, sem ter segurança. Essa invenção, segundo o filósofo, destituiu a vida de seu verdadeiro sentido.

Para não viver presos na falsa sensação de segurança, paz e sossego, Nietzsche propõe a superação das dicotomias de valores, o que ele chama de transvaloração. A transvaloração é o resgate dos valores fundamentais da existência humana, fora do campo metafísico. Superar as dicotomias entre o mundo verdadeiro e aparente, assumindo sempre a realidade como ela é, faz desaparecer qualquer otimismo produzido sobre incertezas.

Assim, surge o conceito de retorno em Nietzsche, que pode ser expressado na máxima “o homem é algo que deve ser superado”. E essa superação implica a transvaloração antes refletida. Somente quando o homem supera as condições das falsas seguranças, é que ele se humaniza, pois descobre sua própria natureza. Em outras palavras, o retorno em Nietzsche significa a amplificação da natureza humana frente a reformulação de conceitos tradicionais que, acabam por exigir de todos nós uma nova postura frente à nossa existência.

Nietzsche expõe o conceito de “eterno retorno” pela primeiva vez na obra “A Gaia Ciência”, no parágrafo 341, onde enfatiza que “Esta vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo que é inefavelmente grande e pequeno em sua vida, terão de lhe suceder novamente, tudo na mesma sequência e ordem” (NIETZSCHE, 2001, p. 230).

Para trazer a transformação dos sentimentos e perspectivas humanas, é preciso a virtude da coragem. Não que esta signifique o uso da força, mas uma postura onde novos valores, novas maneiras de pensar e fazer, sejam orientados não mais pela negação ou pela postulação de uma realidade orientada por utopias, mas pela aceitação incondicional do mundo como ele é.

Nesse sentido, entendo que a Filosofia de Nietzsche pode nos ajudar a compreender em que dinâmica o retorno escolar tem seu real significado. O sentido não está na ação de retornar para continuar o que foi pausado em determinado momento, mas em experimentar, mesmo sem nenhuma certeza, a realidade como ela é, dentro de sua nova dinâmica. Contudo, as limitações merecem atenção. Conflituam-se comportamentos culturais com exigências técnicas e, conforme Nietzsche, a condição humana não se restringe à condicionamentos, pois a mesma é pura superação. Então, é necessário superar limites culturais e ambições técnicas, pois o que temos é um problema técnico (ainda em processo de solução), que tem impactos humanos.

Se com Nietzsche podemos desconstruir interpretações metafísicas, é porque com ele também podemos vislumbrar uma nova intepretação da vida, muitas vezes mais afirmativa, corajosa e ousada. Conforme ele mesmo afirma “Era isso - a vida? Pois bem! Outra vez!”.
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