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domingo, 6 de junho de 2010

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EDUCAR PARA A ALTERIDADE

O princípio da convivência humana é reconhecer de que não podemos viver sozinhos. Enquanto seres sociais temos sempre a tendência a buscar no outro àquilo que nos falta. É natural, no entanto, que nos sentimos obrigados por nós mesmos a buscar responsabilidades em determinados grupos que, ao nos inserir também nos incumbem de nosso papel social.

alteridade Atualmente, vivemos um tempo onde o individualismo, a arrogância e a prepotência são significados de poder. Poder está relacionado com domínio. Ter poder, é ter domínio sobre a natureza e sobre o outro. Cada qual tem sua verdade que, mesmo não sendo a verdade estabelecida pelo consenso, é válida pelo menos para si em todos os tempos e lugares. Isso tem gerado a lei do menor esforço: o que me identifica com o mundo é o que eu quero fazer dele, o que eu quero ser nele e, o que eu posso aproveitar dele. Muito menos, é ver que, como um ser inserido no mundo, devo me sentir parte dele de modo a assumir que é diante dele que tenho responsabilidades sobre o que acontece nele, com ele e comigo. À esses aspectos, chamamos de alteridade.

Atualmente existe uma crise de alteridade. Ou seja, a maior dificuldade que sentimos é a possibilidade de nos colocar no lugar do outro. Dificilmente carrego comigo as dores daqueles que não tem terra para plantar, daqueles que não tem lugar para morar, dinheiro para comprar alimentos, roupas para vestir, acesso à educação, entre outros…; esses não fazem parte do que sou!

Quando educados para a alteridade, a vida ganha um novo sentido: as relações com o meio ambiente e com os outros homens passa pelo entendimento e pelo significado do que é viver. Pois, viver não é apenas passar os anos…viver é estender o tempo sobre nosso significado. Viver é como dizem, “a vida é bonita, é bonita e é bonita!”.

A escola tem tentado trabalhar a alteridade, mas o sentimento de diferença tem se constituído desde o berço, quando nos imbuem de racismo, preconceitos sexuais, menosprezando os mínimos sociais. Aprendemos que a vida vale mais quanto mais se tem! Mentira! O valor da vida não pode ser medido por ações individuais, mas sim, alteras. Afinal, que significado teria a vida sem outrem?

Assim, quando somos educados para a alteridade, vamos aos poucos nos envolvendo em uma gama de responsabilidades que aumentam nosso circulo social, pois aprendemos a conviver com todas as possíveis diferenças. Com isso, diminuímos a tensão social causada pelo exagero do “eu”, distribuindo o sentimento do “nós” para qualquer atitude humana.

A família, a escola, Igreja e Estado, deveriam estar preocupados com a dimensão da alteridade, porque uma vez educados assim, superamos vários dos problemas sociais, entre eles, a falta de respeito com pais, professores e autoridades elegidas de forma democrática.

Educar para a alteridade quer ser um imperativo construído a partir da necessidade de novos tempos, de reflexão sobre o tempo em que vivemos enquanto egoístas, visualizando nosso próprio umbigo, para superar o antagonismo entre o ser e o ter.

Enfim, ser educado para a alteridade significa o ser humano assumir uma nova postura diante do mundo e de si mesmo.

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11 comentários:

  1. como trabalhar este texto no ensino médio?

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  2. Olá Anonimo!
    Esse texto pode ser trabalhado no ensino médio a partir da ideia da responsabilidade, liberdade e dependência de outrem. Assim, podemos, também trabalhá-lo a partir da ideia de mudança de paradigma, onde, no Paradigma moderno de pensamento as pessoas vivem um individualismo exarcebado, enquanto que, nos tempos que vivemos, os tempos de um paradigma neomoderno, é necessária a reconstrução dos valores iluministas como, por exemplo, a liberdade, democracia, consenso, e, se puder aprofundar com Habermas, a comunidade ideal de fala.
    Sugiro ainda o filme "O Guardião de Memórias"

    Abraço,

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  3. Estava apenas procurando o significado da palavra 'alteridade' para entender o título de um livro, antes de adquiri-lo, e me deparei com este texto maravilhoso. Lhe sou grata pelo aprendizado.

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    1. Profa. MSc. Ana Paula Oliveira Gonçalves - Obrigado por visitar o blog. É sempre uma discussão interessante a questão da alteridade. Em especial, em tempos como os de agora. Abraço, muita luz!

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  4. Lindo vou utilizar para uma apresentação na escola

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  5. Gostei muito e vou utilizar na primeira semana de aula , obrigada por adicionar aos meus saberes

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    1. Olá, Tudo bem Raimunda?
      Espero ter contribuído com seus saberes e dos seus. Obrigado também por visitar o blog.
      Abraço,

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  6. Olá Prof !

    Muito obrigado por compartilhar o texto. Faz todo sentido do mundo educar para Alteridade ! Em quais livros posso encontrar mais informações sobre Alteridade ?

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  7. Entre tantos textos por mim pesquisados para um trabalho da faculdade, encontro o seu, que me trouxe um enorme esclarecimento, maior até que algumas teses sobre educação que li. Excelente!
    Obrigada pela linguagem simples, pela preocupação com a educação, pelo seu trabalho que ainda me auxiliará bastante.
    Andréa Villalba

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    1. Boa tarde, Andréa Villalba.
      Fico feliz que tenha gostado do texto. É uma primeira provocação daquilo que ainda podemos investigar em torno dessa temática. De fato, ela é muito provocante! Tentei expressar utilizando uma linguagem clara e ao mesmo tempo complexa, significando e ressignificando conceitos e contextos.
      Obrigado por visitar o Blog.
      Abraço,

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