Só é possível falar de uma revisão crítica do papel do pedagogo na contemporaneidade, se ancorado em princípios que assumem como ponto de partida para a educação uma pedagogia do diálogo.
Esta pedagogia considera, sem a tentativa de fazer distinções formais entre as diferentes pedagogias, que a realidade é dialética (movimento de contradições e mudanças). Ela introduz no diálogo pedagógico a dúvida e a suspeita sobre a realidade do homem concreto, e das relações que este estabelece com a sociedade real e seus meandros. Assim, a pedagogia do diálogo está historicamente situada em uma compreensão de homem válida para todos os contextos; ou seja, uma antropologia contextualizada.
Fazer uma revisão do papel do pedagogo na contemporaneidade, é refletir diretamente, na teoria e na prática, a prática social do exercício da pedagogia na educação, bem como vincular essa prática ao ato educativo como ato político e transformador, a teoria vinculada à transformação social.
Por isso, utilizar a concepção de pedagogo como aquele que "conduz as crianças", como outrora entre os gregos se fazia, é inadequado ao nosso tempo. Hoje, o pedagogo exerce outros papéis. E é sobre esses papéis e a formação acadêmica para os mesmos que cabe a revisão crítica (dialética) da pedagogia.
Argumento de que a pedagogia é uma ciência educativa, onde sua epistemologia e conteúdo situacional consistem em existir para criar educação. No entanto, o que vemos são as ciências específicas conduzindo o processo educativo, sua gestão, seu sentido e existência. O que as nossas faculdades de pedagogia tem a dizer sobre isso? Há exceções, que confirmam a regra; mas que de imediato, são raras.
Quando se trata da formação de pedagogos nas universidades/ faculdades, outras perguntas são interessantes de serem elaboradas: Por que a extinção de muitos cursos de Pedagogia, uma vez que esta é a ciência da Educação? O que justifica a não existência dessas Faculdades, se o fundamento das próprias é a própria Pedagogia? Talvez, o grande desafio para as Faculdades de Pedagogia é formar gente capaz de assumir sua autonomia epistemológica, de perceber as contradições do processo formativo com oportunidade formativa, como semente de libertação da alienação técnica sobre a dimensão humana do "criar educação" - função primeira da pedagogia.
Por fim, falar em reconstrução, é assumir que estamos vivendo um momento em que o pedagogo tem a possibilidade de repensar a sua função na sociedade; ou seja, repensar a educação como tarefa crítica, reconstruindo com isso, a própria sociedade brasileira e a sua condição educativa. Mais que ter a função de perceber a contradição, é necessária a consciência da contradição, e perceber que a mesma é histórica, filosófica e sociologicamente fundada a partir das contradições inerentes a sociedade brasileira.
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