Em momentos de crise, qualquer suspiro é convite para missa de sétimo dia. Qualquer iniciativa é entendida como desespero. Qualquer palavra mal compreendida, arranha!
As palavras, quando da má compreensão do outro, retornam como cães ferozes em direção à caça. Palavras são ameaçadoras. Palavras sequestram sentidos. Palavras dão sentido, implicam situações, diminuem tensões, dilaceram o silêncio do nada dito. O silêncio…muitas vezes mais necessário do que muitas palavras.
Nosso vocabulário tem palavras de duplo sentido, e isso todo mundo sabe! O que todo mundo não quer, é compreender de que determinadas expressões são carregadas de contexto e de história que lhe conferem sentido.
Em uma sociedade que relativiza o valor da palavra à compreensão patética da mídia, enforca-se o sentido do contexto, priorizando apenas a raiz etimológica gráfica da palavra.
Falar em homo sapiens no contexto da palavra, é ignorar que há por trás de tamanha significância uma relação desgastada de homo fabers. E o pior é pensar que a relação é de um homo sapiens dominante x mulher fabers. O pensamento ocidental, desde sua abordagem filosófica, científica, econômica, artística e cultural, reservou o sapiens ao gênero masculino e o fabers ao feminino. A construção social não nega!
Então…por que o espanto?
Mídia patética! Reduz à compreensão do intelecto poetikós ao patetikós. Pouco criativa, absurda, usurpadora do sentido feminino do sapiens, da mulher sapiens. Basta observar minunciosamente e politicamente os espaços reservados na programação das emissoras de tv, para observarmos o quão sapiens ou fabers é o papel feminino.
Estranho é ver a sociedade da onda que estamos inseridos. Os antigos diziam que “caiu na rede é peixe”; já os de agora, “caiu no face é verdade!”. O pior de tudo isso não é acreditar no fato, mas na consonância da mentira com a péssima interpretação dada à ela.
Afirmo sim mulher sapiens, no sentido do contexto. É hora de resgatar o sapiens feminino, o protagonismo da mulher através do movimento dialético que coloca em crise o positivismo interpretativo ofuscado pelo interesse dominante.
A compreensão da analogia é outro aspecto que aqui merece destaque. Ao passo que avançamos em direção à uma sociedade cada dia mais complexa, mais difícil se torna a compreensão do complexo. Se, de acordo com a analogia o sentido está no sentido da interpretação, a compreensão fragmentada pode levar ao entendimento equivocado.
Para compreender o sentido da analogia, precisa-se compreender o contexto em que a mesma se insere. O fragmento não tem contexto, é solto. Por onde passa, gera novas incompreensões.
Incompreensões geram audiência, mas também discriminação, preconceito e machismo.
O novo social é a possibilidade de olhar para o velho re-criando-o. É necessário filtrar. É necessário emancipar o humano, seja do homem ou da mulher. É necessário recriar o sapiens numa dimensão mais humana e menos hominizada. ((•)) Ouça este post
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