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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

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MAQUIAVÉLICO OU DEMONÍACO!


Costumeiramente empregamos o termo “maquiavélico” àquilo que nos é sedutor, poderoso, enganador, perverso e diabólico. No entanto, será que foi essa conotação que Maquiavel emprega para o termo maquiavélico? Temos percebido que Maquiavel é mal compreendido pelo mau uso do termo maquiavélico. Para explicar e fundamentar o mau entendimento ocorrido não apenas pela literatura mas também nas abordagens teóricas que se faz sobre Maquiavel, precisamos recorrer ao “O Príncipe” – obra desse tão engenhoso pensador político.
Antes de tudo é importante ressaltar que Maquiavel escreveu “O Príncipe” em um momento que a Itália passava por crises políticas e econômicas profundas e estava sob o domínio dos bárbaros. Então, Maquiavel resolve criar o príncipe como uma figura necessária ao Estado Absoluto. Mas não só, ele denomina o príncipe como alguém munido de fortuna e virtú, que reunisse em si boas e más virtudes e que fossem utilizadas conforme a necessidade. Essa caracterização tem gerado a partir dos comentadores, um príncipe dotado do “simples desejo do poder pelo poder”, pois o mesmo pretendia em suas ações designar as ações aos fins que se procura atingir, ou seja, construir uma Instituição (Estado) no qual a vontade do povo fosse respeitada.
Assim, Maquiavel é estratégico: define o objetivo, enxerga a realidade, pensa na situação desejada, vê quais táticas podem concretizar seu objeto de desejo (separar a Política da Moral e da Religião), e funda o seu principio político: uma sociedade de conflitos políticos. Nesse sentido, a maldade empregada do príncipe é justificada pela oposição que existe entre os opressores e os oprimidos, pois essa é, segundo Maquiavel a energia criadora da sociedade. Cabe então ao príncipe aproveitar essa oposição para se consolidar. Interessante observar que, a oposição do oprimido com o opressor, gera um estereótipo diabólico do príncipe, pois esse se consolida nessa tensão.Enquanto Aristóteles dizia que o Estado deveria assegurar a felicidade do povo, Santo Agostinho e Santo Tomas de Aquino afirmam que o Estado é a preparação do homem para o Reino de Deus, Maquiavel diz que o Estado tem sua dinâmica, suas técnicas, estratégias e leis. E, mesmo que se possa imaginar um Estado perfeito, ele não existe. Portanto, é apenas utópico o pensamento de que em política deveria se fazer o que é certo, pelo contrário, em política deve-se ver o que se pode fazer e não aquilo que seria o certo de fazer.Essa negação do sonho, da utopia, da esperança e da perspectiva da mudança caracteriza o príncipe maquiavélico como uma figura extremamente horrorosa, carregada de rancor e de maldade.
No entanto, alerta o próprio Maquiavel, deve-se ter cuidado com a Moral Religiosa, pois a mesma não sustenta a moral do cidadão e sim da religião. Contrapondo a moral religiosa de seu tempo, Maquiavel sustenta que é o homem que edifica o Estado e, no entanto, nada mais fundamental do que ser a moral do cidadão a premissa básica para a construção dos espaços de poder.
No entanto, concluímos que o termo maquiavélico, carregado do caráter demoníaco se assenta na perspectiva da resistência moral. De qualquer forma, colocar a responsabilidade moral no cidadão exige uma postura de identidade fundada sob o livre-arbítrio, o que faz pensar que a aceitação de uma moral religiosa não se possível de assegurar. Assim, essa má caracterização é necessária se pensado o Estado Absoluto, a época de Maquiavel, e a questão do Estado como uma Instituição dotada de técnicas, estratégias e leis. ((•)) Ouça este post