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sábado, 27 de março de 2010

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DESTRUIÇÃO OU UM “TOQUE” DE SENSIBILIDADE?

Francis Bacon, filósofo inglês do Séc. XVII dizia: “Saber é poder!”. Bacon estava diante de uma necessidade que emergia do seio de sua sociedade: o Desenvolvimento Científico. Hoje, estamos altamente desenvolvidos a ponto de acreditar mais em nossa arrogância do que em nossa natureza; à ponto de pensar que, por mais que saibamos de seus riscos, eles não nos são importantes, pois os minimizamos, o tornamos ingênuo diante de nossa tamanha confiança em nós mesmos e nos nossos artífices. Mero engano! O que vemos, é que o “poder” ganhou um espaço, enquanto o saber e a sensibilidade ficaram à mercê do sentido da vida.

Todo poder implica de certa forma, em uma imposição de foto_destruição_hz alguém em relação à alguém. Em nome do poder, o homem rompeu o seu “cordão umbilical” com a sua mãe, a natureza. Se apoiou em uma racionalidade assentada nos princípios da técnica e do egocentrismo, se tornou, como dizia Nietzsche, “senhor de si mesmo”. O Séc. XVII inaugurou o modo de pensar moderno. O que se entende como ultrapassado deve se deixar de lado. Abandona-se o sentimento de dependência, aliás, para que ser dependente, se tudo podemos? Deus é abandonado! O antropocentrismo é inaugurado sob a opressão da cosmologia, da vida e de tudo que há na terra. A obra “A Criação” de Michelangelo, com enfoque no Renascimento (Séc. XVI), demonstra a transferência de um poder divino ao homem. O homem sentado sobre a Terra representa sua superioridade em relação aos demais animais e seres vegetativos. É angustiante pensar que ainda reproduzimos essa consciência em nossas formas de pensar!

Já o Saber, como dizia Sócrates, exige tamanha humildade, a ponto de reconhecer de que “só sei que nada sei!”. Esse princípio, elege um terceiro: a sensibilidade. Não é possível o Saber sem ser sensível! Toda sensibilidade aponta à percepção como princípio da dúvida, e portanto, da pergunta. Quando perguntamos, desestruturamos nossa condição de senhores e, passamos a nos colocar no lugar daquele que sabe apenas que nada sabe. Quando perguntamos pela sensibilidade, inauguramos um novo modo de pensar e agir: a sensação de que, nosso “cordão umbilical” com a mãe natureza ainda não foi rompido. Precisamos de seu oxigênio que embala nossas entranhas; da água que refresca nossa sede e do alimento que sustenta nossa arcada óssea.

No entanto, não agimos assim! E nossa mãe, sob forma de aviso, sensivelmente nos evoca a pararmos e pensarmos como anda nossa relação com ela. A sensibilidade é tamanha que provoca destruição! Parece que chegamos ao limite existencial, onde a sensibilidade assume o papel da extremidade. Supostamente ainda, gerações após gerações continuarão a conduzir de forma irreversível o caos ensinado pelos seus antecedentes.

Nós, educadores estamos fazendo um trabalho de “formiguinha” muito importante: não precisamos sair por ai catar latinha, recolher pneus, etc., estamos sim, por meio do ensino-aprendizagem conduzindo nossos jovens para um mundo mais sensível e de percepção. Quem sabe assim, a destruição deixe de ser apenas um toque de sensibilidade.

Pensamos demasiadamente, sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura, que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá. (Charles Chaplin).

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domingo, 21 de março de 2010

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O MAL-ESTAR DE UMA CIVILIZAÇÃO!

O ser humano é insatisfeito! No entanto, há sempre a necessidade de buscar àquilo quetristeza deseja. O desejo, conforme Aristóteles é uma condição natural, ou seja, já nascemos com ele. Ninguém está imune do desejo. O desejo acompanha a vida do início ao seu fim. No entanto, a vida social é resultado do desejo e não simplesmente da necessidade de sobrevivência. O conflito, autor de inúmeras construções ou destruição de cultura é sim, por conseguinte, inerente do processo social.

Diante dessa apresentação surge a tendência ao livre-arbítrio, ou seja, uma vez que a vida social é construção, também o mal-estar pode ser construído. O livre-arbítrio é o que determina a condição humana, ou seja, por meio dele abandonamos nossa animalidade e preservamos a intenção de viver em sociedade. Alguns não entendem a máxima do livre-arbítrio: “Não faças ao outro o que não queres que te façam” e, praticam atrocidades na vida social, dificultando a sua vida e a dos seus.

Visualizando essas prerrogativas na educação, verifica-se que vivemos um momento de “mal-estar de uma civilização”, ou seja, valores que até então tinham significado de universalidade são abandonados sem a construção de novos. No lugar desses valores surgem modismos sofisticados em nome da felicidade, mascarados de marketing barato e sustentação da desigualdade social. Basta observar o modelo carregado pelo Big Brother e outros do mesmo caráter.

Diante desse cenário, no lugar da indignação (valor tão esquecido atualmente) surge o parâmetro de normalidade, onde as gerações com nomenclaturas diversas (Y, X,Z…) aceitam padrões construídos pela ideologia dominante como princípios de vida para si e para seus convives. É de saltar os olhos!

Então, enquanto professores, pais e escola, lutamos contra um sistema imaturo, insustentável do ponto de vista social, onde há uma força alienante que conduz a nossa e as futuras gerações à viverem um mal-estar, ou seja, uma insatisfação que só será suprida a partir do momento em que o normal produzirá nosso imperativo de vida, dizendo o que pensar, fazer, consumir, etc.

O mal-estar é caracterizado pela insatisfação com a condição individual e coletiva. Estar de bem consigo mesmo exige uma postura diante do mundo! Estar de bem com o coletivo exige uma postura diante dos outros! E essa relação não é nada fácil, principalmente quando se vive um momento em que cada um estabelece sua verdade. A identidade coletiva foi abandonada e, junto com ela a noção de responsabilidade coletiva! Para tal, basta observar a dificuldade que é encontrar lideranças nos tempos em que mais necessitamos das mesmas.

De outro lado, há que se dizer da necessidade de superar este mal-estar sob a perspectiva de que esse momento assim caracterizado seja apenas uma transição. Se não o encararmos assim, vamos aos poucos perdendo a noção dos valores universais, encarando apenas os “modismos” como imperativos de nossa vida.

Enquanto escola, professores e pais, jamais podemos deixar de reforçar valores universais como a vida, a liberdade e a dignidade, pois, se assim o fizermos estamos acabando por concordar com o mal-estar civilizatório.

“Se você treme de indignação perante uma injustiça, então somos companheiros” – Che Guevara.

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domingo, 14 de março de 2010

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PAIS E FILHOS: UMA RELAÇÃO NECESSÁRIA!

Ouço cotidianamente pais trabalhando com políticas compensatórias em relação aos estudos de seus filhos. “Se você fazer isso, ganha aquilo!” ou “se você não fizer isso, te tiro aquilo!” – essas são expressões que buscam compensar determinada atividade com aquilo que a criança gosta. Absurdos como dar computador e outros objetos de prazer infantil para obter boas notas na escola. E na escola, uma corrida absurda pela pais_e_filhos competição de notas, aumentando a tensão na aprendizagem. Vamos discutir?

Todos sabem que temos competências diferentes! No entanto, aprendemos coisas diferentes em tempos diferentes. Não podemos transformar a escola em um centro de competição, de fórmulas prontas, de castigos morais e muito menos de políticas compensatórias.

A aprendizagem precisa de um tempo hábil para que aconteça, e na maioria das vezes, esse tempo é apurado em função de resultados. A criança pressionada pela família poderá vir a criar bloqueios, perdendo totalmente o estímulo pela aprendizagem. Lembrar também que a aprendizagem ocorre por meio da significação. Há que se entender que aquilo que está no currículo escolar, muitas vezes não é o que paira na consciência e na vivência infantil.

A partir de toda problemática apontada acima, a relação pais e filhos sempre foi e será uma aproximação necessária. A maioria das famílias busca a satisfação de resultados por eles esperados, como se a criança fosse apenas uma “máquina de equacionar” processos escolares.

Por trás da aprendizagem escolar existe uma gama de questões a serem consideradas: o momento afetivo da criança, a convivência familiar (em algumas famílias as relações são mais ou menos tensas), a adaptação ao ambiente escolar, a troca de ideias com os professores, a integração com os colegas, o modo de ver o mundo, entre outros.

Dessa forma, se considerados todos esses processos não podemos fracionar a aprendizagem. A falta de uma relação entre pais e filhos pode acarretar na falta de responsabilidade no espaço escolar. A convivência familiar e escolar é mediada por fatos sociais, ou seja, fatos externos que determinam a conduta dos indivíduos. Nesse sentido, a relação de pais e filhos colabora para com a aprendizagem escolar quando for mediada pelo diálogo aberto, sensível e amadurecido.

No entanto, a confusão ou a troca de responsabilidades na família poderá vir a acarretar a indisciplina escolar. Ao assumir as normas familiares a criança cria seu espaço de responsabilidade, emitindo aos pais a mediação, mas não o definir de sua postura.

Pais abertos ao diálogo têm filhos dialógicos! O diálogo é a base do entendimento, no entanto, a privação do mesmo poderá vir a ser a causa dos conflitos familiares e escolares como reflexo.

Com esse embasamento, a escola não quer se eximir do papel moral, pelo contrário, quer pertencer à um trabalho conjunto necessário, onde os principais sujeitos que se constroem são todos os que dele participarem. A escola dialógica está sempre de portas abertas para trocar ideias sobre seus alunos, não os classificando de acordo com habilidades, mas buscando a desenvolver todas as competências necessárias para entender a sociedade e a vida nela inserida a partir da possibilidade e do entendimento.

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sexta-feira, 12 de março de 2010

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Cada qual com a sua Quimera!

Sob um grande céu cinzento, numa grande planície poeirenta, sem caminhos, sem gramados, sem uma urtiga, encontrei vários homens que andavam curvados.
Cada um deles carregava nas costas uma enorme Quimera1, tão pesada quanto um saco de farinha ou de carvão, ou os apetrechos de um soldado da infantaria romana.
Mas a monstruosa besta não era um peso inerte; pelo contrário, envolvia e oprimia o biblia_cienciahomem com seus músculos elásticos e possantes; grampeava-se com suas duas vastas garras no peito de sua montaria; e sua cabeça fabulosa sobressaía acima da fronte do homem, como um daqueles capacetes horríveis com os quais os antigos guerreiros esperavam acirrar o terror inimigo.
Interroguei um desses homens, e perguntei-lhe aonde iam assim. Respondeu-me que de nada sabia, nem ele, nem os outros, mas que evidentemente iam a algum lugar, já que eram levados por uma invencível necessidade de andar.
Coisa curiosa de se notar: nenhum dos viajantes parecia irritado com a besta feroz pendurada em seu pescoço e colada em suas costas; dir-se-ia que a considerava como fazendo parte de si mesmo. Todos esses rostos cansados e sérios não demonstravam desespero; sob o céu, com os pés mergulhados na poeira de um solo tão desolado quanto este céu, eles caminhavam com fisionomia resignada daqueles que estão condenados a ter sempre esperança.
E o cortejo passou a meu lado e afundou na atmosfera do horizonte, no lugar em que a superfície arredondada do planeta se esquiva à curiosidade do olhar humano.
E, durante alguns instantes, teimei em querer compreender esse mistério; mas em seguida a irresistível indiferença se abateu sobre mim, e me deixou mais duramente oprimido do que eles próprios por suas esmagadoras Quimeras.

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quinta-feira, 4 de março de 2010

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EDUCAÇÃO OU CONTROLE SOCIAL?

Você já ouviu falar sobre “Controle Social”? Conhece suas funções? Sabe dcontrolesociale que meios utiliza? Controle Social significa ação e reação sobre indivíduos e grupos de modo à fazê-los deixar de agir nessa ou naquela direção. Em outras palavras, é uma forma de dirigir a  sociedade de modo a alienar o pensamento e a ação.

A primeira forma de controle social era a força. Pela natureza, observa-se que o mais forte mantém o domínio sobre o mais fraco. Essa é a lei natural! Mas, com o passar do tempo, e com os imperativos de “Ordem e Progresso” foi preciso reformular essa teoria. Quando se tem um poder coercitivo mais forte do que a força, esta não aparece como necessária. Isso acontece quando, depois de tanto tempo ouvir sempre a mesma ideia, mesmo não sendo convencionada pelo grupo, ou seja, imposta por alguém interessado na coerção, nos acostumamos ao controle social.

Temos hoje, uma nova configuração de controle social. Com o abandono da “lei da força”, foi preciso elaborar leis para que houvesse harmonia na vida social. A legislação pode mudar, mas sempre vai predominar o interesse do mais forte. Nesse sentido, as leis que são estabelecidas buscam determinar os objetivos daqueles que detém as chaves do sistema e o manipulam conforme lhes convém.

Diante disso, implantam-se os meios de controle social: o costume, a opinião pública, as ideias e padrões morais, a religião, o governo e a lei, a educação, etc. Este último meio, a educação, parece ser o mais eficiente e de maior impacto.

Desde os primeiros anos de nossa existência vamos sendo inseridos em um sistema funcionalista. A família nos dá coordenadas morais pelas quais buscamos dar os primeiros passos na convivência social. Depois é a vez da escola que nos submete ao crivo da ciência. Junto com ela, a Igreja e posterior o Estado. Se somados os anos em que passamos na escola, percebemos que, durante a fase de nossa formação identidária, ali se dão os primeiros passos.

É nesse cenário que são incutidos por meio dos programas escolares e do trabalho daquele professor que ainda se deixa manipular, os primeiros preceitos da ordem e do progresso. Toda orientação sem o critério da criticidade corre o risco de manipulação.

É interessante observar que toda a estrutura educacional se encontra subordinada à lei. Isso não quer dizer que a lei produza pessoas manipuladas por si mesma, mas se observado à quem se destina, ou mesmo, quem está interessado na proposta da lei, se verificará que o sistema é muito bem estruturado em favor dos dominantes sociais.

Controlar toda a ação que surge das massas é imperativo e sinônimo de ordem. A organização das massas surge da espontaneidade e da liberdade das pessoas que sonham com dias melhores. Esse sonho pode se tornar irrealizável quando, por força do capital se coloque os interesses de determinada classe social na frente dos outros. Pergunta-se: quem faz esse processo de seleção? A Educação.

Fomentar a critica, a participação e a formação cultural é a saída para um sistema pobre que constrói a cada dia o seu coveiro. Dizia Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade mudará”.

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